Vede o Anjo entrar em Nazaré – Padre Mateo dos Sagrados Corações

Postado dia 02/06/2021

Vede o Anjo entrar em Nazaré, na casita que serve de palácio à Virgem-Rainha; “Ave, diz, cheia de graça…” Saúdo-vos em nome do Paraiso; ave, Rainha, futura Mãe do Creador.

– “Turbata est…

Do coração virginal, o sangue sobe às faces; cora, estremece..

De que?… de confusão!… Porque?…

Porque é humilde…

Cora por causa da grandeza a que essa palavra a eleva; é por humildade que teme…

Confunde-se, porque percebe tudo; seu “Fiat” fará dela Rainha e Mãe do Criador, do Messias; bem o compreende, medindo embora sua pequenez de criatura, de serva… “Eu, a escrava… tornarme tão grande!”

Hoje, ainda sois crianças. Que sereis amanhã ? Deus o sabe.

Uma cousa, porém, sei: é que neste mundo sereis felizes na medida em que fordes humildes… e que vossa grandeza no céu estará na proporção da vossa pequenez, da vossa simplicidade nesta terra.

Para ser grandes, verdadeiramente grandes aos olhos do bom Deus, tendes de ser pequenas e humildes.

Lembrai-vos que a única cousa, que, propriamente, vos pertence é vossa miséria… O resto, todas as vossas qualidades são dons de Deus…

moedas de ouro colocadas como num cofre…

Vossas não são e sim, o tesouro do bom Jesus, o fruto de seus sorrisos… o preço de suas lágrimas!

Sede humildes, conservai-vos sempre humildes, senão os olhos de Jesus se desviariam de vós… fechar-se-iam para chorar… e caireis,

infalivelmente.

Ha alguns meses apenas, vi uma antiga aluna de importante internato, moça talentosa, distinta, mas orgulhosa, cheia de si.

As mestras, o confessor não tinham conseguido decidi-la a praticar a humildade. E hoje, onde está ? Basta dizer-vos que é a vergonha da pobre mãe e da familia… pois essa infeliz caiu com todo o peso do seu orgulho…

Ah! Como devemos reconhecer nossa própria fraqueza, dizer e repetir: sem Jesus, nada posso!… Aprendamos com Maria a temer; a seu exemplo, sejamos humildes…

Porque não somos grandes criminosos? Pela divina misericórdia!

Conservemo-nos pequenos, pequeninos, no abismo da nossa miséria:

RESPEXIT HUMILITATEM (olhou a humildade)…

FECIT MIHI MAGNA (fez em mim grandes cousas)… Os olhos de Jesus, tão belos, duma beleza que arrebata os Anjos, os olhos de Maria caíram sobre minha miséria… Sou pobre, sua piedade, seus corações, sua misericórdia me concederam a graça, o socorro e operaram o há em mim. Benditos sejam por me terem olhado!

Estais aqui, a ouvir esta conferencia: merecestes tal graça ?…

Quantas há, melhores do que vós, que jamais receberam, em toda vida, o que recebeis neste dia!…

Deveis reconhecer o dom de amor que vos é concedido, e dizer: “Obrigada, Jesús… Vós me escolhestes para ser uma florzinha do vosso Coração… Tudo recebi de Vós; quero, pois, ser humilde, pequenina, sem pretensão alguma, e ficar sempre qual criancinha no regaço de Maria”.

Ha aqui, eu o sei, antigas alunas que conservaram a simplicidade infantil: é bem isto que deveis imitar, Nada de suscetibilidade, filha do amor próprio. Ha almas que não toleram que se lhes toquem. A menor palavra as irrita; uma sacudidela, e ei-las em profundo abatimento… Nada disto!

Mais tarde, pode ser que não tenhais tudo quanto desejais, nem mesmo o que mereceis; aprendei a sofrer, desde agora.

A alma humilde permanece calma diante da injustiça.

Suponhamos que daqui a dez anos, depois de terdes sido boas, virtuosas, devotadas, recompensam-vos com o desprezo, o esquecimento, a ingratidão… Que fazer?… ficar tranquilas… pensar nos pecados de vossa vida… Pelo menor,

por um só, seja qual for, merecerieis castigo muito mais grave, pois com esse pecado ultrajastes a santidade de Deus, feristes sua divina Face…

Ele, entretanto, vos perdoou, vos apertou ao Coração, ainda esta manhã…

Preparai-vos, pois, para bem aceitar ofensazinhas e até clamorosas injustiças… porque o futuro só em hosanas vos será escasso!… Por uma flor, pode ser que encontreis cinquenta espinhos . . . Refleti então que, sofrendo com calma, saldais vossa dívida. Aceitai a humilhação como uma veste feita sob vossa medida e, quando fôrdes alvo de qualquer louvor ou mercê, dizei sinceramente: é dom gratuito… Não o mereci…