Que é o Sagrado Coração de Jesus? – Pe A Niquet

Postado dia 29/07/2021

Antes de estudar o Coração de Jesus na sua vida interior e exterior, como pretendemos durante este bendito mês, é necessário precisar e fixar nossas idéias sobre este ponto fundamental: que é o Coração de Jesus? São um pouco áridas, é bem verdade, estas noções, porém nosso amor para com o bom Mestre saberá temperar-lhes a aridez. Acompanharemos o espirito da Igreja em sua liturgia e em suas decisões; e como ela se inspirou nas palavras e no espirito do Salvador, estamos certos de não nos extraviar.

Algumas linhas serão suficientes.

  1. O Coração de Jesus é, no sentido próprio d’essa palavra, seu Coração de carne que pulsava em seu peito como o nosso, e que era n’Ele, como em nós, o motor do sangue e o centro da vida orgânica. Foi d’este Coração corporal, material de Nossa Senhor Jesus Cristo, que se disse: Foi varado da lança e d’Ele saiu sangue e água. A Igreja começa o officio do S. Coração, convidando-nos a adorá-lO. Cor Jesu, lancea vulneratum, venite adoremos.
  2. O Coração de Jesus é ainda, em sentido metafórico, seu Coração sensível, que Santo Thomaz chama appetitus sensitivus, dependente essencialmente da alma e do corpo. O amor e o ódio, a alegria e a tristeza, são os afetos, as paixões principais d’esta parte inferior da alma. É neste sentido que se deve entender esta antífona de laudes: Secundum multitudinem dolorum meorum in Corde meo. É claro que o coração material é incapaz de sentir, por si mesmo, dor ou alegria, mas está debaixo da dependência imediata da sensibilidade, é nele que a alma do Salvador sentia os afetos sensíveis e dava à sua caridade todas as formas sensíveis do amor: a alegria, a dor, o temor, a compaixão, a misericórdia, etc. Ele traduziu a seu modo todas as impressões da alma sensível de Jesus, está intimamente ligado a seus mais íntimos afetos e de tal modo que por uma espécie de comunicação de idiomas entre o coração de carne e a sensibilidade há atribuição natural a um, d’aquilo que faz ou sofre o outro. Assim o Salvador pode dizer com toda a verdade: “Eis o Coração que tanto amou os homens!”
  3. O Coração de Jesus é finalmente, por extensão, sua vontade, que se chama seu Coração espiritual. Mas não aplicamo-la senão nas virtudes que têm uma conexão próxima com o amor de Jesus para com seu Pai e para com os homens, humildade, doçura, obediência, etc. Foi n’este sentido que Ele próprio disse: Deus meus, volui et legem tuam in médio Cordis mei… Discite a me quia mitis sum et humilis Corde.  Com estas noções será fácil dar-se à expressão Coração de Jesus o sentido respectivo que Lhe pertence. Acrescentamos apenas duas observações: 1. É preciso não considerar nunca o Coração de Jesus, quer seu Coração material, quer seu Coração sensível, quer seu Coração espiritual, independente da Pessoa do Verbo; 2. É preciso na nossa devoção não separar esses três Corações, (si é permitido exprimir-se assim) uns dos outros: formam um só e mesmo Coração, do qual o amor é o princípio, centro e termo. A Igreja declarou claramente que o objeto adequado de nosso Culto é, não só o Coração de carne de Jesus, considerado na sua substância, mas esse mesmo Coração considerado como órgão ou, pelo menos, como símbolo de seu amor e como imagem viva de sua santidade.

        O papel imenso que representou na vida inteira de Jesus, fal-o o centro e o sol de sua humanidade deificada no Verbo. Adorá-lo, Amá-lo, Imita-lo, eis a tríplice homenagem que devemos a esse amável Coração.

[1] NIQUET, Pe A. Mês do Sagrado Coração de Jesus para uso dos Seminários. 2 edição. 1889. P 14/19