HORA SANTA (noite da primeira quinta-feira do MÊS DE JUNHO) -SEGUNDO O PADRE MATÉO GRAWLEI-BOEVEY

Postado dia 30/05/2018

 

HORA SANTA das almas atribuladas

Nós Vos adoramos[1], ó Deus sacramentado! Nós Vos bendizemos Redentor do mundo! Nós Vos amamos, Jesus, no esplendor do vosso Coração agonizante… Só Vós sois grande, só Vós sois santo, ó Deus aniquilado na Hóstia divina… Só Vós sois altíssimo, ó Deus escondido no mistério deste sacrifício incruento… Glória a Vós, Rei do Céu, que quereis viver no Getsemani do Tabernáculo! Glória a Vós, Jesus sacramentado, nas alturas do céu, onde habitam os anjos!… Que Vos bendigam os corações dos homens para sempre!

Em nome de todos, e especialmente dos que sofrem com fé e amor, adoramos a vossa solidão, as vossas amarguras, todas as vossas agonias!… Cremos que sois o Cristo, nosso Deus, e o Homem das Dores.

(Oferecei esta HORA SANTA ao Coração agonizante de Jesus, como homenagem de resignação e amor, em vosso nome e de todos os que sofrem).

(PAUSA)

(Leitura lenta e pausada)

As almas. — Fomos atraídos, ó Jesus, ao abismo do Vosso Coração pela onipotência do vosso amor e das vossas lágrimas… uma nascente infinita de força e de consolação… Que impenetrável mistério! Que suave conforto, para nós, sabermos que chorastes! Como é eloqüente aquele faça-se da vossa agonia! Palavra de paz, que antes de sair dos vossos lábios trêmulos de comoção, brotou da profundidade da vossa alma mortalmente triste! Eis nos, pois, aqui; trazemos-Vos as nossas muitas dores, e as de tantas almas provadas que Vos adoram. Vós, Senhor, bem conheceis este oceano de penas, cujas ondas amargas submergiam a vossa alma santíssima.

Em primeiro lugar quero lembrar-Vos, Senhor, aqueles que sofrem enfermidades, doenças. Aqui mesmo entre os que viemos fazer-Vos companhia durante esta HORA SANTA, e entre aqueles que nos são queridos, há doentes, necessitados, pobres. Com quanta compaixão olhastes sempre os doentes! Com que ternura buscaram vossos olhos aos leprosos, aos tolhidos, aos cegos, para os curardes com um sorriso, uma bênção de amor! Se não podiam eles ir ter convosco, ia Vós ter com eles, passar no caminho onde Vos esperavam jazendo no chão… Contempláveis, e lhes estendíeis a mão… e seguiam-Vos curados…

Muitos mais são, porém, os pobres… os que trabalham rudemente e vivem na miséria… sem pão, sem abrigo, sem remédio, sem consolo… Mas que poderemos nós dizer-Vos do que sofrem os pobres, que Vós não conheçais já, ó Pobre divino, operário de Nazaré, tão atraente na vossa mesma pobreza. Tiveste fome, sentiste frio, suportastes, mais que tudo, o desdém e o desprezo que o mundo consagra aos que não têm casa, nem terras, nem dinheiro. “Donde lhe veio a este a sabedoria?” perguntavam os vossos acusadores. “Que direitos pode ele reivindicar em Israel?” Que quer de Nazaré? Não é ele o filho do carpinteiro?

Recordai-Vos nesta HORA SANTA das vossas humilhações e lançai um olhar sobre os pobres que gemem tantos doentes que sofrem… Para estes todos Vos pedimos o dom da vossa paz e o favor da vossa onipotente e prodigiosa bênção. Recompensai-lhes a sua resignação. Oh! E, quando o consinta a vossa glória, aliviai-os e consolai-os. Vós, cujo amor nunca esteve ocioso, que velais com solicitude sobre o lírio do campo e a avezinha do monte, abençoai nesta hora com particular ternura, desde essa Hóstia, aos afligidos, para quem imploramos as águas vivas e os tesouros do vosso adorável Coração.

(BREVE PAUSA)

(Pausadamente)

Recordai-Vos, também, Mestre adorado, daqueles que sofrem desânimos, desalentos, reveses que humilham…

Por conselho da vossa sábia e amorosa Providência a cada passo os nossos projetos desvanecem-se como fumo: ou então, o que ainda custa mais, depois de muitos esforços e fadigas, ensangüentamos em pungentes espinhos… Quantas desilusões nas esperanças humanas! Só Vós conheceis o porquê de tantos contratempos que abatem certas famílias. Porque assim nos convém, não detendes a torrente, que vai arrasar os muros do lar. Fazendo violência ao vosso bondoso Coração, escondei-Vos na Hóstia; emudeceis, quando nos ameaçam certas desventuras, que, aliás, hão de trazer a salvação àqueles que nos amamos. Vedes-nos a chorar… e decerto sentis conosco as nossas decepções, e estais ao nosso lado nessas horas negras e difíceis, por onde todos passamos. Recordando as cruéis angústias da vossa agonia, Vós mesmo vindes ter conosco, apertai-nos em vossos braços, sem nós até sentirmos! Ó Jesus! Nós bem conhecemos as finezas do vosso Coração, e por isso adivinhamos-lhe os latidos em meio das mais acerbas provas da nossa vida.

Aceitai, Senhor, essas penas em reparação daquelas que suportastes na visão mortal do Jardim das Oliveiras… e sustentai no vosso Coração todos os que sofrem.

(Todos repetem em voz alta as palavras em itálico)

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

São tantos, ó Mestre amado, aqueles que no leito da dor esperam a visita do Médico divino…

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

Há crianças doentes sem mãe, velhos sem lar, que morrerão sem outro amparo senão o da vossa misericórdia…

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

Há tantos que sofrem há longos anos… Pobrezinhos!… Não têm remédio humano, nem esperança…

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

Entrai, ó bom Mestre, nos tugúrios onde vive a miséria. São choças desmanteladas, onde agonizam pobres mães, sem outras testemunhas, senão os seus filhinhos, pobres, cheios de fome…

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

Com a doce luz que irradia do vosso Lado aberto esclarecei os lares, onde já houve abundância, e hoje há silêncio e miséria.

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

Sede misericordioso particularmente para aqueles que foram perseguidos pelos homens; para aqueles que num momento viram desvanecer-se todos os planos de sua prosperidade…

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

Não ignorais Senhor, que são muitas as famílias, as almas que vivem em cruéis incertezas…

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

No perpétuo conflito de opostos interesses, nos inevitáveis dissabores causados pelos negócios e naturais aspirações da vida…

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

Vós sofrestes também, ó Jesus, a falta de alívio humano; compadecei-Vos, pois de tantos pobres, enfermos, fartos de decepções, que imploram ao menos um instante de trégua e repouso…

Sustentai no vosso Coração a todos os que sofrem!

(BREVE PAUSA)

Voz de Jesus. — “Dissestes bem: Eu estou perto de vós quando o sofrimento vos despega da terra. A cruz será sempre a ponte sangrenta a salutar, que liga o vosso coração aflito ao meu agonizante.”

Eis me aqui, meus amigos: escutei o vosso clamor em prol dos enfermos, pobres, e vítimas das contradições humanas.

Quantas graças não caíram agora mesmo sobre todos esses desde o trono de misericórdia, onde velo pela vossa vida penosa e cheia de fadigas!… Continuai a falar-me das vossas penas e dores… O meu Coração deseja essas confidências… Os vossos sofrimentos comovem-no… Aproximai-vos, meus filhinhos, e num estreito abraço, solucemos na mesma dor… choremos juntos as inclemências da terra… Aproximai-vos. Desafogai a vossa alma no meu divino Coração.

(PAUSA)

Voz das almas. — O vosso isolamento, o silêncio e a solidão glacial que encerram o vosso Tabernáculo, acusam o mundo do pecado que mais Vos ofende: a ingratidão!

(PAUSADAMENTE)

Amar, ó Jesus, e não ser amado… Bendizer e ser amaldiçoado… espalhar benefícios e receber em troca só injúrias!… que paga tão injusta e cruel!… que odiosa ingratidão! E é este pão amargoso do vosso exílio no altar, o preço da vossa sublime escravidão no Tabernáculo… Assim se prolonga pelos séculos fora a vossa mortal agonia de Getsemani!…

Vós dissestes: “Não é o discípulo mais que o Mestre, nem o servo mais que o seu Senhor”: Por isso também nós somos convidados a aproximar de nossos lábios o cálice da ingratidão… Aceitamos Senhor, por amor de Vós, essa beberagem mais amarga do que a morte… Ó Vós, bom Mestre, tantas vezes atraiçoado pelos vosso filhos, concedei-nos a força de suportar, sem queixa, em espírito de expiação, a nossa parte de agonia pela salvação daqueles que amamos, e por quem os nossos corações são torturados! Compadecei-Vos daqueles que neste momento sucumbem ao peso de semelhante tribulação. Compadecei-Vos dos lares desolados, onde os filhos, algum dia esperança e alegria da família, hoje são a sua cruel desilusão. Compadecei-Vos das esposas infelizes, já cansadas de chorar desvarios que as ferem em pleno coração. Compadecei-Vos de tantos homens leais, cheios de renúncia e dedicação, atraiçoados na sua amizade, feridos e burlados na sua própria casa, injuriados pelos mesmos que tinham solicitado a sua caridade e os seus favores. O mundo paga os benefícios, primeiro com palavras e sorrisos e depois com deslealdade e perfídia!…

Mas porque Vos amamos e só porque Vos amamos, agradecemos-Vos essas penas cruéis, e pedimos-Vos perdão para aqueles que abrem em nosso coração a mesma larga e sensível ferida que a nossa ingratidão tanta vez tem aberto no vosso Coração amantíssimo!

(BREVE PAUSA)

Ó bom Jesus, compadecei-Vos daqueles que sofrem a solidão e o abandono… Quantas vezes, ó Mestre amantíssimo, depois de terdes pregado as maravilhas do vosso amor e multiplicado os vossos milagres na presença das multidões extasiadas, as vistes afastar-se de Vós com desconfiança e indiferença! E Vós ficáveis sozinhos como aqui no Sacrário, na solidão e abandono em que Vos deixam os vossos filhos… Só o eterno Padre pode medir a intensidade da dor deste abandono…

Não ignorais, ó Jesus, serem muitos, muitos os homens privados de todas as delicadezas de amor… órfãos na vida, sem afeições… errantes no deserto do mundo… longe do calor do lar doméstico!… O Getsemani e o Calvário recordam-Vos, ó dulcíssimo Jesus, as angústias da solidão!… Oh! Como é doloroso chamar, e saber que a nossa voz se perde no silêncio… sofrer, chorar, desejar amor… e ficar só, sempre só. Ninguém como Vós conheceu esta tremenda desolação!…

Nasce no fundo da alma de quem sofre assim, uma angústia parecida com a que Vós sofrestes na agonia de Quinta-feira santa: o tédio, o desgosto, o cansaço da vida. Ah! O pobre coração humano sente-se então desfalecer!… Estas almas, assim provadas, precisam de Vós, Senhor, nesses momentos de supremo desconforto… precisam de Vós, Coração agonizante de Jesus!… Se não viésseis em seu auxílio, essas almas desesperadas chamariam pela morte… Mas não: Vós vireis como nós viemos participar da vossa hora de agonia solitária.

Se tivermos de sofrer um dia a solidão e o abandono dos nossos irmãos…

(Todos repetem em voz alta as palavras em itálico).

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

Se nos provardes, permitindo que os nossos nos esqueçam…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

Quando a idade e a enfermidade nos isolarem, rompendo laços que nós julgávamos inquebrantáveis…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

Se um dia a pobreza visitar as nossas casas, e então os nossos amigos se afastarem de nós, só a Vós se arrimará a nossa confiança. Não nos abandonareis…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

A desventura segue os nossos passos: se ela nos abater, e os nossos irmãos nos abandonarem…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

A injustiça humana é grande!  Se algum dia ela nos tocar, não Vos afastei de nós, Senhor…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

Se aqueles mesmos, a quem tanto amamos, nos abandonarem… nessa hora de cruel ingratidão vinde, ó Jesus, nós esperamos em Vós…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

E se aqueles que nos pediram a nossa afeição e o auxílio do nosso sacrifício, chegarem a odiar-nos, como a Vós, ó bom Jesus, perdoai-lhes e nesse momento aproximai-Vos de nós…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

A calúnia dos vossos inimigos cobriu de opróbrio o vosso rosto divino. Se ela nos tocar também, e nos humilhar, vinde e não nos abandoneis, ó Mestre, Vós que fostes caluniados…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

E nas horas de mortal silêncio, quando nos sentirmos sós, absolutamente sós, submergidos completamente no abismo do esquecimento e indiferença cruéis…

Dai-nos um refugio no vosso amável Coração!

(BREVE PAUSA)

Voz do Mestre. — “Nunca nas vossas horas de solidão e tormento, estareis longe do meu Coração que vos ama… Sim, que vos ama infinitamente, porque também vós o amais… e porque sofreis. Se quando estava só e abandonado, Me fizeste companhia, se quando era amargurado pelos meus, Me consolastes… se tantas vezes derretestes o gelo da indiferença, que cerca a minha prisão solitária… como poderei Eu preferir agora os cânticos de júbilo dos Anjos às invocações da alma angustiada, quando ela tem necessidade de repousar no meu Coração, para ser, ela mesma, consolada?!

Eis o meu coração cheio de ternura infinita para suavizar as vossas feridas… Tomai-o. É vosso!… Só eu sei aliviar com largueza infinita: Não temais. Sei cicatrizar as mais profundas feridas: Não hesiteis. Só eu compreendo como mata a solenidade e a ingratidão. Vinde chorar comigo, sereis consolados!…

Voz das almas. — Ó Jesus, Vós tomais nos altares um título, que resume  todos os títulos ao nosso reconhecimento e nos anima no meio das nossas tristezas: Sois vítima!

(LENTO E PAUSADO)

Na Hóstia santa sois o grande desconhecido, o grande desprezado, até dos vossos! Desde há vinte séculos habitais no meio de nós, desejoso de penetrar na nossa vida… e apesar disso não queremos ainda compreender-vos!… Sois sempre um hóspede que conservamos a distância; quase um estranho no meio de vossos filhos… Vós o dissestes à vossa serva Margarida Maria: a maior das vossas mágoas é serdes desconhecido dos vossos na vossa própria casa.

(BREVE PAUSA)

Graças, amado Mestre, quando nos permitis provar a amargura do vosso cálice! Quanto dói, ó Jesus que até os bons nos firam, e que em vosso nome e por motivos de zelo e de consciência nos condenem. Enganarmo-nos é tão humano! Vós que sabeis tudo, permiti-lo para nos convidardes a pôr só em Vós a nossa confiança. Permiti-lo para suportarmos essa dor de espírito de reparação por  todas as faltas de delicadeza com que temos entristecido o vosso Coração, nós, que nos consagramos à vossa glória… Graças, portanto, por uma ferida dolorosa, sim, mas aberta na nossa alma por mão amiga!

Graças ainda por outra prova inevitável, que nos arrebata aqueles mesmos que nos destes para amarmos. Recordai-Vos da tristeza com que Vós mesmos íeis para a casa de Betânia, onde já Vos não esperava o vosso amigo Lázaro. Ainda decerto se não secou a fonte das lágrimas que derramastes na morte desse amigo do vosso Coração. Sim, vossos olhos belos parecem-nos ainda úmidos das lágrimas do Homem Deus, que quis amar com a comoção e a ternura do nosso coração de carne…

E esse Jesus sois Vós, Vós mesmos, presente na Hóstia que prostrados em terra adoramos… Olhai-nos, pois, desde ela; olhai todos aqueles que nos precederam no caminho da vida… que nos foram caros… como outras tantas fibras do nosso coração… Desapareceram… deixaram-nos. Que separação cruel, a separação da morte!…

Nós chorastes junto do sepulcro de Lázaro, e bem sabíeis que íeis ressuscitá-lo… Assim também permitis que, embora aceitemos, com fé vivíssima os lutos que nos mandais, sintamos a alma dilacerada por eles, quando perdemos um membro do nosso lar. É uma ferida, bem sabeis, que se pensa, mas não cicatriza. Vinde Vós, ó Jesus, preencher em nosso coração e na nossa família os vazios que nela tem cavado, com vossa licença, a cruel morte… Vinde dar aos que sobrevivem a calma e a resignação para rezarem sobre as sepulturas… Vinde, ó Mestre, escutar a nossa oração pelos nossos saudosos defuntos… Dai-lhes o eterno descanso, entre os resplendores da luz perpétua. Descansem em paz na doçura do vosso Coração.

(PAUSADAMENTE)

Antes de terminar esta HORA SANTA queremos pedir-Vos, ó Jesus, uma visita ao mais íntimo da nossa alma, ao mais fundo do abismo das nossas dores, das nossas misérias. Ninguém nos conhece, como Vós. Que o vosso doce olhar penetre na nossa alma, ó Senhor, com um raio de luz; ele não magoará nem partirá o frágil vidro do nosso coração ferido… Entrai Jesus Salvador, entrai para dentro, bem para dentro, até aos últimos recessos; descei até aos abismos onde eu guardo as secretas amarguras, que suporto só por Vós… Tocai com a vossa mão criadora estas chagas, que a mais ninguém mostra, e que sangram há tanto tempo!… Há angústias, Salvador adorado, no meio das quais procuro não chorar. Não vá o mundo ver as minhas lágrimas, e, como não as entende escarnecer delas!

Ah! Como é doce desabafar assim convosco, que na vossa vida sacramental tragais amarguras infinitas, que também ninguém imagina!… Vós só, ó Mestre, podeis saber tudo. Olhai, reparai bem na minha alma, até as mais escuras profundidades…

Em Getsemani, perto de Vós, ó divino Agonizante, queremos aprender a sofrer em silêncio, com fé e amor! Foi lá que, sob a opressão violenta do vosso Coração, rebentou a nascente daquele pranto, que correu, não dos olhos, mas das veias, em torrentes de suor de sangue…

(LENTO)

Calar, quando se morre em uma agonia íntima e silenciosa, calar então… é morrer duas vezes… Vós bem o sabeis, ó divino Agonizante! Nessa convulsão misteriosa têm parte as separações repentinas das almas… os temores e sobressaltos dos pais… as angústias, desilusões e inquietações dos sacerdotes, as penas, tantas e tão fundas e tão opressivas das almas boas, que guardam para Vós o segredo impenetrável das suas dores!…

A HORA SANTA há de ser a hora das confidências e das consolações. Se Vos obrigamos a vir às nossas almas, não foi tanto para nos queixarmos, ó Jesus, como para Vos oferecermos, como o mais precioso tesouro, as nossas penas secretíssimas, e as nossas amarguras, que não têm nome na linguagem humana. Aceitai-as, portanto, Senhor, pelo triunfo do vosso amor.

(Todos repetem em voz alta as palavras em itálico).

Santificai as nossas penas, ó Divino Coração!

Sim, ó Jesus, santificai as contradições que nos vêm da parte dos bons… e as que nos causam as injustiças dos homens!

Santificai as nossas penas, ó Divino Coração!

Aceitai as feridas abertas pelos que amamos, e nos deixam na alma desilusões tão cruéis…

Santificai as nossas penas, ó Divino Coração!

Acertai como ramo de violetas, a saudade eterna dos nossos defuntos… Morreram para correr ao vosso chamamento…

Santificai as nossas penas, ó Divino Coração!

Acertai as lágrimas resignadas que choramos sobre a campa dos seres amados. Recordai-Vos das famílias enlutadas, particularmente dos orfãozinhos…

Santificai as nossas penas, ó Divino Coração!

Vinde amado Salvador, tomar em nossa casa o lugar dos que nos deixaram: só Vós podeis preencher o vazio da sua ausência…

Santificai as nossas penas, ó Divino Coração!

Aceitai, Senhor, os espinhos ocultos, que dilaceram a nossa alma. Aceitai-os. Não há piedade  humana que os possa arrancar…

Santificai as nossas penas, ó Divino Coração!

Aceitai as inquietações das mães, os desvelos dos pais, os esforços estéreis, ingratos, de tantos sacerdotes… Tomai, enfim, o Jesus, as nossas almas afligidas…

Santificai as nossas penas, ó Divino Coração!

(PAUSA)

Voz da alma. — Que santa e consoladora foi para Mim e para vós, meus filhos, esta hora, em que Me descobristes as vossas penas e Eu vos introduzi na chaga sanguinolenta do meu sagrado Lado! Como se parecem os nossos gemidos, lançados sob o peso das aflições humanas! Getsemani é para vós um santuário de oração, de agonia e incessante redenção…. Amemo-nos no sofrimento, meus irmãos, meus amigos, meus filhinhos: amemo-nos na Cruz!…

(LENTAMENTE)

Vinde a Mim, vós que sofreis a pobreza e a enfermidade: apressai-vos, trazei aos meus pés o fardo das vossas aflições; e Eu vos aliviarei na chaga do meu sagrado Coração!

Vinde a Mim, vós todos que sofreis contradições da parte das criaturas, injustiças dos homens, reveses da fortuna, provas dolorosas na família, e Eu vos consolarei na chaga do meu sagrado Coração!

Vinde a Mim os que chorais as ingratidões das pessoas amadas, das do vosso mesmo sangue talvez. Vinde depressa, que esse desamor mata-vos a alma. Vinde e Eu a esquentarei nos incêndios do meu sagrado Coração!

Vinde a Mim, os que arrastais uma existência vazia: que viveis no tédio e no isolamento; vinde a Mim os esquecidos, que na aurora da vida provais a fadiga do exílio; lançai-vos em meus braços, e Eu vos aliviarei com a minha ternura no jardim do meu sagrado Coração!

Vinde a Mim vós, desprezados, desdenhados, incompreendidos até dos bons; Vós, cujos esforços em procurar a minha glória são censurados; vinde a Mim, ó meus amigos, e Eu vos aliviarei, inebriando-vos no cálice do meu sagrado Coração!

Vinde a Mim os que estais em luto, que chorais a perda do filho, da mãe, do esposo, do irmão; vinde depressa ao meu Sacrário quantos tendes a vossa casa marcada pela morte com uma cruz de lágrimas, vinde, e Eu vos consolarei na paz inefável do meu sagrado Coração!

Vinde! O tempo é sombra que passa, mas o Céu é eterno; vinde vós que tendes sede de amor e de justiça, vinde! Eu sou o vosso Deus, e por vós também Eu agonizei: tomai e comei o Pão vivo, a minha Eucaristia; levantai-vos; e para continuar a luta, vinde, que eu vos aliviarei no paraíso do meu sagrado Coração!…

(PAUSA)

Voz das almas. Que tenho eu, Senhor, que Vós me não tenhais dado, ainda mesmo o tesouro das minhas lágrimas?

Que sei eu, que Vós me não tenhais ensinado, sobretudo a ciência de sofrer amando?

Que valho eu, se não fico ao vosso lado, quando choro e Vós agonizais?

Que mereço eu, se não estou unido convosco no vosso Calvário, nas minhas penas?

Perdoai-me pela vossa Cruz e pelas minhas cruzes; perdoai-me as ofensas que cometi contra Vós.

Vós criastes-me sem eu merecer.

Vós remistes-me sem eu Vo-lo pedir, e esquecendo-me da vossa Paixão.

Muito fizeste criando-me. Muito mais remindo-me.

E não sois menos poderoso perdoando-me.

Porque o sangue que derramastes e a morte acerba que padecestes;

Não foi pelos anjos que Vos Louvam e não sofrem.

Mas por mim e pelos outros pecadores que Vós ofendeu e gemem, expiando os seus pecados.

Se Vos hei negado, deixai que vos reconheça em toda a beleza da vossa agonia.

Se Vos hei injuriado, deixai que vos louve na Redenção cruenta do Calvário…

Se Vos hei ofendido, concedei-me servir-Vos e sofrer pela exaltação e triunfo do vosso divino Coração!

Venha a nós o vosso reino!

Um Padre Nosso e Ave Maria pelas intenções dos presentes.

Um Padre Nosso e Ave Maria pelo triunfo universal do Sagrado Coração, especialmente com a Comunhão diária, Hora Santa, e Entronização do Sagrado Coração nas famílias.

 

ATO FINAL DE CONSAGRAÇÃO

Divino Agonizante de Getsemani, Jesus Sacramentado: dignai-Vos unir o vosso Sangue precioso e os vossos sofrimentos às aflições destes filhos do vosso entristecido Coração; dignai-Vos aceitar, abençoar, aliviar, as nossas cruzes!… Tirai delas uma glória, uma glória imensa para Vós e para a redenção de muitas almas pervertidas pelos prazeres da terra. Ah! Desde essa Hóstia procurai e amai com ternura especial, aqueles que ninguém ama; pensai as feridas abertas pela indiferença de filhos ingratos e amigos desleais! Tão perto, como viveis do mar das nossas lágrimas, lançai nele o lenho da vossa Cruz que as adoce. Prisioneiro divino do altar: visitai com um raio da vossa luz tantos aflitos da vida, tantos amargurados com os sues prazeres criminosos… Recolhei tantos abandonados… dai-nos a todos a ciência de sofrer com paz e com fé, e concedei-nos o dom bendito de saber consolar. Comunicai às nossas penas uma força divina irresistível, que nos leve com o coração ferido até ao fundo do vosso Coração dilacerado. Neste céu queremos viver, sofrendo por vosso nome e por vosso amor. Dele queremos arrancar e fazer nossos os seus espinhos…

Sede Rei do mundo, Vós, Homem Deus, Homem das dores. Dominai-o e triunfai, sarando as feridas que ele abre com a sua violência e malícia.

Mestre amantíssimo, Bondade inefável, Jesus, Deus de tantas lágrimas e Deus de toda a consolação, vinde ter conosco, quando sofremos; correi, porque as dores perseguem-nos, e é grande, e é muita a fadiga de quem chora longe de Vós!… Não, não recusamos, adorável Nazareno, a via dolorosa, nem as desolações do deserto, não! Mas reclamamos vossa presença confortante, o olhar da vossa vista divina, a bênção da vossa mão ensangüentada.

Não Vos pedimos que nos envieis um anjo que nos sustenha nas nossas horas de agonia. Chamamos, mas é por Vós, Senhor, só por Vós, porque temos o direito sacrossanto de Vos pedir que choreis conosco as nossas lágrimas. Dai-nos a paz na tribulação, dai-nos a força, e se quiserdes, concedei-nos um conforto no cálice do vosso Coração agonizante!

Pela vossa e pelas nossas cruzes venha a nós o vosso Reino!

 

[1] HORA SANTA .Doze Exercícios para a vigília da primeira sexta-feira e mais Sete para diversas circunstâncias pelo R. P. MATÉO GRAWLEI-BOEVEY dos Sagrados Corações (PICPUS), Primeira Tradução Portuguesa por P. Alexandre dos Santos, O. F. M, Edição do “Boletim Mensal” Braga – 1928, p 152/176