A maior maravilha no céu e na terra é a Encarnação do Filho de Deus. Haver o Todo-Poderoso tirado do nada a luz e as estrelas, a terra e os céus, não é tanto para admirar, pois é a obra do único absoluto Criador e Senhor. Mas, haver-se dignado o Todo Poderoso humilhar-Se, ser concebido e nascer de uma mulher, e aparecer como qualquer outra criança ordinária, é o que jamais os Anjos nem os homens poderiam ter imaginado!
E o que levou o Filho de Deus a tais profundezas de humilhação? O seu amor por nós.
“Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas, que por nós, homens, e
pela nossa salvação, desceu do céu, foi concebido pelo Espirito-Santo, nasceu da Virgem
Maria e foi feito homem.”
A Encarnação é, pois, obra de amor -Santa Mechtilde expõe a verdade com força e graça. Personifica o amor sob a forma de uma Virgem e esta Virgem é quem rouba do Coração de Deus o Seu Filho eterno e Todo Poderoso como Ele-Próprio. Damos as palavras da Santa: “Ella viu no Coração de Deus como uma linda Virgem, trazendo na mão um anel de diamante com o qual tocava constantemente o Coração de Deus. A alma perguntou à Virgem porque tocava assim o Coração divino e ela respondeu: „Eu sou o Amor divino, e o diamante representa o pecado de Adão, e, como se emprega o sangue para quebrar o diamante, assim também as faltas de Adão só podem ser obliteradas pela Encarnação e o sangue de Cristo.
Imediatamente após o pecado de Adão eu intervim e impedi as consequências desta culpa. Tocando sem cessar o Coração de Deus e movendo-o á piedade, não o deixei sossegar até ter tirado o Filho de Deus do seio do Pai, colocando-O no seio de Maria Sua Mãe” (II. XVII.I ).
Ah! belíssimo pensamento! O amor de Deus apoderou-se do pecado de Adão, mais negro que o carvão, e dele fez diamante precioso! Com este pecado assim transformado, tocou o Coração de Deus, e causou a mais espantosa das maravilhas, a Encarnação do Verbo Divino. A Santa Egreja, tendo já declarado este pensamento no Símbolo da Fé, desenvolveu-o ainda mais no Hino da Festa do Sagrado Coração.
Não anunciam os dois versos seguintes as revelações de Santa Mechtilde?
Amor coegit te tuus
Mortale corpus sumere,
Ut novus Adam redderes
Quod vetus ille abstulerat.
Ille amor, almus artifex
Terræ, marisque et siderum,
Errata patrum miserans
Et nostra rumpens vincula.
„Coagiu-te o teu amor
Para reparar, novo Adão,
Do antigo culpa fatal.
Teu, amor suave artífice
Dos astros, da terra e mar,
Perdoando nossos pais,
Vem nossos laços quebrar.”
Só amor venceu o poder da Majestade divina. Ele, por assim dizer, humilhou a Sua insondável Sabedoria; derramou a Sua Bondade, moderou o rigor de Sua Justiça, transformou-o em misericórdia e abaixou a Grandeza de Deus até à miséria de nosso exilio.
O Verbo Encarnado pode dizer a Santa Mechtilde: “Eu sou o Filho do Amor e o Amor é minha Mãe (1. 35.) e os Anjos puderam exaltal-O, clamando: Nós Te louvamos para sempre, a Ti que o Amor tornou o Filho da Virgem. (1. T’) 2
(O Amor do Sagrado Coração, Explicado segundo os escritos de Santa Mechtilde, por um padre Benedictino, Traducção autorizada por uma irmã benedictina, 1938, BUTZON & BERCKER, EDITORES DA SANTA SÉ APOSTOLICA).
