Últimos anos e morte da Irmã Maria Marta Chambon

Postado dia 08/03/2016

 

O objetivo desta brochura foi simplesmente o de dar um pequeno resumo da vida da Irmã Maria Marta enquanto depositária e apóstola das Santas Chagas. Mas esta é apenas uma faceta da sua vida interior. Quem quiser, pode encontrar o seu complemento num volume mais detalhado[1].

As graças e as comunicações divinas preenchem verdadeiramente todas as horas desta vida excepcional, durante vinte anos, ou seja, até a morte da Revª Madre Teresa Eugénia Revel (30 de Dezembro de 1887).

Muito tempo antes, Jesus, mostrando à Irmã Maria Marta as duas Madres que detinham o segredo de todas as suas graças, tinha-lhe feito esta pergunta: «Serias capaz de mas sacrificar?…» E esta alma, desapegada de tudo o que não fosse Jesus, tinha concordado, porém, com uma reserva: que, a partir de então, mais nada transparecesse dos favores de que Ele a cumulava…, que tudo permanecesse bem escondido apenas entre os dois.

Jesus prometeu e cumpriu a Sua palavra. Depois da morte da nossa boa Madre Tereza Eugénia, Ele cobriu com um véu, cada vez mais impenetrável, aquela que Ele tinha resolvido manter escondida até o último dia. Deus permitiu – por um conjunto de circunstancias que seria demasiado longo relatar – que as Superioras que vieram a seguir não tivessem senão um conhecimento muito vago das graças recebidas. Os Cadernos que continham as suas narrações estiveram noutras mãos enquanto ela viveu.

Durante os últimos vinte anos, quer dizer, até à sua morte, nada transpareceu para o exterior dessas graças maravilhosas, nada, a não ser as longas horas que a Irmã Maria Marta passava ao pé do Santíssimo Sacramento, imóvel, insensível, como em êxtase!… E ninguém ousava interrogá-la sobre o que se passava nesses instantes benditos entre a sua alma extasiada e o Hóspede divino do Sacrário.

Esta trama contínua de orações, de trabalho e de mortificação…, este silêncio, este apagamento absoluto, parece-nos uma prova mais, e não das menos convincentes, da verdade dos favores espantosos com que ela foi cumulada. Uma alma de humildade suspeita, ou mesmo normal, teria tentado chamar a atenção, ter-se-ia vangloriado da obra que Jesus operava nela e por ela… A Irmã Maria Marta, nunca!

Ela mergulhava, com delícia, na sombra da vida comum e escondida… Mas, como o grão de mostarda lançado à terra, a devoção às Santas Chagas germinava em todos os corações.

Na última noite de Natal que a nossa Irmã passou na terra, Jesus – cremos que assim foi – tinha-a avisado da sua próxima partida deste mundo e, ao mesmo tempo, dos sofrimentos que ainda lhe queria pedir.

Uma Irmã, ao pé dela, durante a Missa da meia-noite, ouviu-a exclamar, angustiadamente: «Ó meu Jesus, isso não!… Tudo, sim, tudo, mas isso não!…»

«Isso», devia ser a doença terrível, dolorosa… «Isso», devia ser, sobretudo, o desamparo interior, a ausência do Bem-amado!… Ela, habituada à Sua querida presença, à Sua conversação diária, não podia aceitar a Sua privação sem uma dolorosa dor de alma.

Por isso notamos, desde esse dia, uma profunda tristeza em toda a sua fisionomia.

Atingida por uma forte gripe, a que se vieram juntar diversas complicações muito graves, ela recebeu com alegria a Extrema-Unção, no início da Quaresma de 1907.

Ainda lhe restava subir um doloroso Calvário: Várias semanas de supremas purificações, durante as quais o Salvador a identificou, mais do que nunca – para a tornar mais semelhante a Ele -, às agonias físicas e morais da Sua Paixão. Ele tinha-a prevenido com antecedência: «O mal que te der a morte sairá das minhas Chagas.»

Nós sentíamos que havia algo de misterioso neste último combate da natureza…

No dia 21 de Março, depois duma noite de terríveis sofrimentos, uma grande calma, um grande silêncio se fez… Toda a Comunidade rodeava a moribunda, recitando milhares de vezes as queridas invocações às Santas Chagas.

Por fim, às oito horas da tarde, nas primeiras Vésperas da sua Compaixão, Maria vinha buscar a sua filha, a quem tinha ensinado a amar a Jesus!… E o Esposo recebia para sempre, na Chaga do Seu Coração, a esposa de que Ele tinha feito na terra a Sua vítima bem-amada, a Sua confidente e a apóstola das Suas Santas Chagas.

[1]  Vida da Irmã Maria Marta Chambon – Mosteiro da Visitação de Chambery (Sabóia), Rue Burdin, n° 10.