A PRIMEIRA SEXTA FEIRA DO MEZ DE SETEMBRO – SEGUNDO SANTO AFFONSO DE LIGORIO

Postado dia 01/09/2017

Coração de Jesus, Amigo das almas castas.

 

O Coração de Jesus[1] consagra afeto especial ás virgens e almas puras; elas lhe são tão caras como os anjos. Tais são os atrativos da virtude de castidade; também, diz Santo Ambrosio, aquele que a guarda, é um anjo, aquele que a perde, é um demônio.Uma alma casta é a esposa predileta do Coração de Jesus: Eu prometi Jesus Christo, diz S. Paulo, apresentar-lhe vossas almas como esposas castas.Escrito está que o Esposo divino se nutre entre os lírios. Estes lírios são as almas que se conservam puras para agradar a Deus. Um interprete nota sobre esta passagem dos Cânticos, que, como o demônio se sustenta das manchas da impudicícia, assim o Coração de Jesus se nutre dos lírios da castidade.

Esta virtude, alcançada em grau supremo, é que formou a união mais intima entre Jesus e Maria, a virgem das virgens. Esta união d’amor foi tal, que, como Maria mesma revelou a Santa Brigida, seu Coração não formava senão um com o Coração de Jesus.Esta virgem incomparável pareceu tão bela aos olhos do Senhor, que ele ficou arrebatado por sua beleza, e por isso lhe chama sua única columba, sua única perfeita. Quanto mais um coração é puro, diz Alberto o Grande, tanto mais se enche d’amor divino.Daqui vem que o amor sagrado feriu e traspassou de tal modo o Coração de Maria, que não ficou parte alguma d’ele que não fosse abrasada. S. Bernardinho atesta que ela nunca foi tentada pelo inferno; porque, diz ele, como as moscas afastam-se d’um fogo grande, assim os demônios eram repelidos para longe do Coração de Maria, que era uma chama de caridade tão intensa, que eles não ousavam aproximar-se d’ela.Seu sono mesmo não a impedia de amar a Deus atualmente. Ela podia então dizer com seu divino Filho: Eu durmo e meu Coração vela, meu Coração ama, meu Coração não cessa de ser unido ao Coração de meu Amado. Ó efeitos admiráveis da pureza!

A grande pureza de S. José é que lhe mereceu a gloria incomparável de ser escolhido para pai nutrício de Jesus; sua pureza mereceu-lhe a felicidade de viver na intimidade do Filho de Deus, de ser ternamente amado por ele, de poder tantas vezes estreitar sobre seu coração o Coração ardente de Jesus Christo. Ah! Que afetos deviam penetrar o coração de José, quando levava em seus braços este amável Menino, e lhe fazia ou recebia ternas caricias, e ouvia sair de sua boca as palavras de vida eterna que, como outros tantos dardos inflamados, abrasavam sua bela alma! Entre as pessoas que se amam, muitas vezes o amor esfria à medida que a frequência é maior, porque quanto mais os homens conversam tanto mais descobre um os defeitos do outro. Isto não sucedia com José: quanto mais ele conversava com Jesus, mais o admirava, mais o amava. Ele teve o favor inefável, depois de ter apertado a Jesus tantas vezes contra seu coração, de exalar o último suspiro nos braços e sobre o Coração de Jesus. Tais foram às relações d’este esposo virgem com seu Deus.

  1. João era o discípulo amado de Jesus, porque primava na pureza. Na última ceia, ele teve a ventura de reclinar a cabeça sobre o peito e o Coração do seu divino Mestre. Ó discípulo de predileção, vós sentistes então toda a ternura do Coração de Jesus para com aqueles que o amam!… Se queremos também tornar-nos caros ao Coração de Jesus e merecer suas ternas consolações, procuremos primar na castidade, sabendo que todas as riquezas da terra não são nada em comparação d’uma alma casta. Por ser maior o valor d’esta virtude, mais terrível é a guerra que a carne faz ao homem para lhe arrebatar este tesouro. Para conservá-lo, pois, é necessário empregar toda a vigilância possível.

Primeiro, é necessário fugir da ocasião. Fugi do pecado, diz o Espírito Santo, como se foge d’uma serpente. Não se contenta de fugir da mordedura das serpentes; foge-se de seu contato, foge-se até da sua vizinhança. Se pessoas há que podem ser para nós ocasião de queda devemos fugir até de sua presença e conversação. O casto José não quis nem escutar o que a mulher de Putiphar tinha começado a lhe dizer: fugiu logo, persuadido que era perigoso parar para a ouvir.

Importa ainda, se queremos ser castos, fugir a ociosidade. O Espírito Santo nos adverte que a ociosidade ensina a cometer muitos pecados. Mas diz Sant’Isidoro, o trabalho amortece o fogo da concupiscência.

Pratiquemos alem d’isso a humildade e mortificação. A carne que não é mortificada, dificilmente se submete ao espírito. A castidade conserva-se no meio das mortificações, como o lírio no meio dos espinhos. Quanto aos orgulhosos, Deus os pune permitindo que caiam n’alguma falta vergonhosa: Priusquam humiliarer, ego deliqui. S. Bernardo diz: Pela humildade é que se obtém a castidade.

O mais necessário, porem, é a oração. Cumpre orar e orar continuamente; porque para praticar uma virtude qualquer, tem-se necessidade da graça de Deus, e com muito mais razão é necessária, para conservar a castidade, uma graça poderosa, vista a violenta inclinação do homem para o mal. Assim, desde os primeiros assaltos do vicio impuro, é bom renovar o firme propósito de antes morrer do que pecar, e imediatamente depois, é necessário refugiar-se nos Coração de Jesus e Maria, invocando seus santos nomes. Assim é que os santos venceram todas as tentações de que foram acometidos.

 

Pratica.

Para obter grande pureza, invocarei cada dia a S. José pela seguinte oração, que é chamada oração eficaz:

  1. José pai e protetor das virgens, guarda fiel a quem Deus confiou Jesus, a inocência mesma, e Maria a Virgem das virgens, eu vos rogo e conjuro por Jesus e Maria, este duplo deposito que vos foi tão caro, fazei que eu conserve meu coração isento de toda mancha, e que, puro e casto, sirva constantemente a Jesus e Maria em castidade perfeita. Assim seja.

(100 dias d’ind. uma vez por dia – 4 de Fev. de 1877.)

 

Affectos e supplicas.

Terno Redentor meu, eu vos agradeço me terdes dado tantos meios para vencer as tentações que me assaltam cada dia. Prometo praticar estes meios constantemente; ajudai-me a vos ser fiel. Vejo que quereis minha felicidade eterna: eu também a quero, principalmente para agradar ao vosso Coração que deseja tanto a minha salvação. Meu Deus, não quero mais resistir ao amor que me tendes. Por um efeito d’este amor é que me suportasse com tanta paciência quando vos ofendia. Vós me convidais a vos amar: oh! Isto é o que desejo. Sim, eu vos amo, ó bondade suprema, eu vos amo, bem infinito; pelos merecimentos do vosso Coração não permitais que eu seja ingrato a vossos benefícios; ponde fim á minha ingratidão, ou à minha vida. Senhor, o que haveis operado em mim, dignai-vos confirmar e completar. Esclarecei-me, fortificai-me, abrasai-me no vosso amor. Ó Maria, tesoureira do Coração de Jesus, proclamai-me vosso servo; é o titulo que ambiciono, e rogai a Jesus por mim. Após seus merecimentos, são vossas orações que devem me salvar.

 

Oração Jaculatoria.

Bendita seja a santa e Imaculada conceição da Bem-aventurada Virgem Maria!

(100 dias d’indulg. Cada vez. – 21 de Nov. de 1793.)

 

Exemplo.

Imelda Lambertini nasceu em Bolonha de uma família nobre. Desde o berço, tudo n’ela anunciava alguma coisa de sobrenatural. Para parar suas lágrimas, bastava pronunciar os nomes sagrados de Jesus e Maria. Apenas terminada sua infância, ela fez para si um pequeno oratório aonde ia frequentemente para rezar e oferecer a Deus seu coração virginal. Desprezando o mundo, ela pedia a seus pais a permissão de entrar para um convento da ordem de S. Domingos. Impossível descrever suas mortificações, seu amor da oração, sua generosidade em cumprir todos os seus deveres. Todos os seus afetos eram para a Rainha dos anjos e para a Eucaristia. Todos os dias ouvia a Missa. Sua tenra idade não lhe permitia participar do banquete sagrado, e isto lhe causava grande dor, porque seu coração vivia abrasado no amor de Jesus. Ela não cessava então de convidar o Esposo divino a vir morar em sua alma. O Coração de Jesus, que ama sempre aqueles que o amam, dignou-se ouvi-la pelo prodígio que vamos referir. Era o dia da Ascensão do ano 1333; Imelda tinha então doze anos. Em quanto suas companheiras, felizes e recolhidas, iam, cada uma a seu turno, tomar lugar na mesa santa, só ela ficou ajoelhada no seu lugar, chorando de inveja a pensar na felicidade das outras. Seus olhos erguidos para o céu, suas pequenas mãos cruzadas sobre o peito, e segurando entre os dedos o crucifixo que nunca deixava, ela dizia com a esposa sagrada: “Vinde, ó Amado da minha alma! Descei ao jardim do meu coração que é todo vosso. Ou cessai de inclinar para mim vosso olhar, ou deixai minha alma voar para vós. Arrastai-me para vós corra eu ao odor de vossos perfumes! Oh! pudesse eu também vos dar asilo e fazer-vos festa em meu coração! Ó Jesus, vinde, porque enlanguesço d’amor para convosco!” Mas Jesus não vinha. Sabendo que tudo é possível a oração, ela orava e chorava ao mesmo tempo. De repente, uma hóstia sai do cibório, atravessa a grade do coro, e voando pelo ar, para acima de Imelda. As religiosas, comovidas por este espetáculo, não ousavam crer a seus próprios olhos; mas a ilusão não é mais possível: o milagre persevera; uma claridade se espalha na Igreja, acompanhada de suave odor. O confessor, advertido d’este prodígio, corre, e vendo n’este fato manifestação inequívoca de Deus, recolhe respeitosamente sobre uma  patena a santa hóstia, e a dá em comunhão á ditosa menina. Enfim, ela possui seu Deus, o único objeto de seu amor!… Com as mãos cruzadas sobre o peito, os olhos suavemente cerrados, a piedosa menina abisma-se em profunda e deliciosa contemplação. Muito tempo suas irmãs admiram-na em silêncio, não ousando interrompe-la. Afinal, chamam-na, sacodem-na, mandam que se levante; Imelda, sempre tão pronta a obedecer fica imóvel, ela não ouve, não sente. Imelda, a amante da Eucaristia, não era mais d’este mundo… Ela tornou-se logo objeto da veneração pública. Tendo sido operados muitos prodígios em seu tumulo, a Igreja permitiu honrá-la sob o titulo de bem-aventurada.

(Petits Bollandistes, 16 de Setemb.)

[1] O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS SEGUNDO SANTO AFFONSO DE LIGORIO OU MEDITAÇÕES PARA O MEZ DO SAGRADO CORAÇÃO, A HORA SANTA E A PRIMEIRA SEXTA FEIRA DO MEZ,  COLLEGIDAS DAS OBRAS DO S. DOUTOR PELO PADRE SAINT-OMER, REDEMPTORISTA. TRADUÇÃO PORTUGUEZA FEITA DA 83ª EDIÇÃO PELO EXMO. REVDMO. SR. D. JOAQUIM SILVERIO DE SOUZA BISPO DE DIAMANTINA. 3ª EDIÇÃO.COM APPROVAÇÃO ECCLESIASTICA E DOS SUPERIORES DA ORDEM. RATISBONA TYPOGRAPHIA DE FREDERICO PUSTET. IMPRESSOR DA S. SÉ 1908.