A PRIMEIRA SEXTA FEIRA DO MÊS DE MARÇO, segundo Santo Afonso de Ligório

Postado dia 01/03/2017

 

Meio de nos unirmos ao Sagrado Coração: a boa intenção[1].

 

A boa intenção é tão agradável a Jesus Cristo, que tem o poder de nos introduzir no seu Coração. Feliz aquele que se serve d’ela para ir habitar esta morada d’amor!

Quando Deus creu nossos primeiros pais, Adão e Eva, não pôs os olhos sobre suas mãos, mas sobre seus corações, diz o Eclesiástico. Porque todas as obras exteriores, que não procedem do coração e não são acompanhadas de boa intenção, não têm valor algum diante de Deus. Toda a alegria d’uma alma consiste em ser inteiramente unida pelo coração ao Coração de Jesus.

Nossa intenção nos atos de virtude que praticamos, pode ser boa de três maneiras: a primeira, quando as fazemos para obter de Deus os bens temporais, como quando damos esmolas, mandamos dizer missas ou jejuamos, para sararmos d’alguma doença; esta intenção é boa, contanto que seja acompanhada de resignação à vontade de Deus; mas é pouco perfeita, porque seu objeto não passa a terra. A segunda, quando as fazemos para satisfazer à justiça divina, e diminuir as penas que merecem nossas faltas, ou para obtermos de Deus os bens espirituais, como as virtudes, os merecimentos, a maior glória no paraíso; esta intenção é muito melhor do que a primeira. A terceira é a mais perfeita: é quando em nossas ações, só temos em vista o beneplácito de Deus e o cumprimento de sua santa vontade. Esta intenção é também a mais meritória; porque, quanto mais nos esquecemos no bem que fazemos, mais o Senhor se lembrará de nós e nos encherá de graças, como disse um dia á santa Catharina de Sena: Minha filha pensa em mim e eu pensarei em ti. Estas palavras significam: pensa unicamente em me agradar, e eu cuidarei de teus progressos nas virtudes, de tuas vitorias contra teus inimigos, de tua perfeição e de tua glória no céu. Eis aqui justamente o que dizia a esposa sagrada: Eu sou para meu Amado, e seu Coração se volta para mim. Isto é imitar o amor dos bem-aventurados, cuja felicidade consiste toda em agradar a Deus, porque eles se regozijam mais da felicidade de Deus que da d’eles, como ensina S. Thomaz, e assim entram na alegria do seu Senhor, conforme se lê na Escritura. Nossa intenção nos introduza, pois, no Coração de Jesus; ai é que iremos achar a alegria mais verdadeira que se pode gozar n’este mundo. O olhar que fere o Coração do Esposo divino, e o inflama d’amor, não é senão a intenção de agradar a Deus em tudo o que se faz.

Eis que a maneira prática de tornar agradáveis ao Coração de Jesus todas as ações do dia. De manhã, apenas acordados, nosso primeiro pensamento seja oferecer-lhe tudo o que fizermos e padecermos durante o dia, rogando lhe que nos ajude com sua graça. Façamos em seguida os outros atos marcados para a manhã, atos de agradecimentos, amor, reparação, bons propósitos, tomando a resolução de passar o dia como si fosse o ultimo de nossa vida. O padre Saint-Jure aconselha a fazer com o Senhor esta convenção, que cada vez que se fizer certo sinal, como levar a mão ao coração, ou levantar os olhos para o céu, etc; ter-se-á a intenção de lhe exprimir o amor, o desejo de o ver amado de todos os homens, etc. Depois dos atos supradictos, coloquemo-nos no Sagrado Coração de Jesus, e sob o manto de Maria, pedindo ao Padre eterno, por amor de Jesus e Maria, que nos guarde durante o dia. Procuremos fazer, quanto antes e primeiro que outra qualquer ação, nossa oração ou meditação, seja sobre as verdades eternas, seja sobre a Paixão, quer sobre o Santíssimo Sacramento, quer sobre a Santa Virgem, e façamos n’esse precioso momento muitos atos d’amor e oferenda de nos mesmos ao Coração de Jesus. Um ato d’amor feito com grande fervor de manhã, basta para conservar a alma no fervor durante todo o dia, dizia o venerável padre Vicente Caraffa. Durante o dia, não esqueçamos o Santo Sacrifício da Missa, nem o terço, nem a leitura espiritual, nem a visita ao Santíssimo Sacramento, à Santíssima Virgem e a S. José. De tarde, façamos o exame de consciência. Ao deitarmo-nos, pensemos que deveríamos estar no fogo do inferno; adormeçamos dizendo: Sob a proteção e no Coração de meu Jesus, dormirei e repousarei em paz.

 

Pratica.

Quero habituar-me a renovar, cada vez que ouvir dar as horas, a intenção de agradar ao Coração de Jesus.

Afetos e suplicas.

Meu Deus, eu sou a arvore estéril de que falta o Evangelho; desde muito que mereço ouvir a sentença pronunciada contra ela: Cortai esta planta, que não dá frutos, lança-a no fogo; para que deixá-la ocupar inutilmente o lugar? Desgraçado de mim! Há tantos anos que me favoreceis com graças imensas para me santificar! E até ao presente, Senhor, que frutos recebestes de mim? Mas vós não quereis que eu desespere que eu cesse de ter confiança em vosso Coração infinitamente misericordioso, não dissestes: Pedi e recebereis? Pois sim! Como quereis que vos peça graças, a primeira que solicito, é o perdão de todas as minhas faltas; delas me arrepende do fundo da alma, vendo que feri vosso Coração tão amante e benfazejo, por tantas ofensas e ingratidões. A segunda graça que peço, é o dom de vosso amor; possa eu vos amar d’ora em diante, não com a frieza que vos testemunhei no passado, mas de todo o meu coração, evitando dar-vos o menor desgosto e fazendo tudo o que vos for agradável.

A terceira graça que vos peço, é a santa perseverança na vossa amizade: prefiro vosso amor a todos os reinos do mundo. Vós me quereis todo para vós para poderdes me estreitar mais ternamente sobre vosso Coração: eis-me aqui pronto para vos pertencer. Á mim vos deste todo na cruz e no Sacramento do altar; eu me dou todo a Vós sem reserva alguma. Agradeço-vos me terdes dado o pensamento de vos fazer esta oferenda: pois que me inspirais, é sinal que a aceitais. O Coração de meu Jesus, tão cheio de generosidade e ternura, eu sou vosso e espero que sereis minha recompensa durante toda eternidade. Ó Maria, minha Mãe, uni-me ao Coração de vosso divino Filho e obtende-me graça de o amar sempre.

Oração Jaculatória.

Amado seja por toda parte o Coração de Jesus!

(100 dias d’indulg; 20 Setemb. 1860)

Exemplo.

 

Em 1866 morreu em Orvieto (Estado da Igreja) uma pobre senhora, chamada Marieta. Os quarenta anos de sua existência foram um longo martírio e longa serie de atos de virtudes. Ela tinha a mais terna devoção para com Jesus e Maria. “O me Jesus, exclamava Marietta, um dia na sua linguagem simples e singela, ó Jesus, não me peçais mais meu coração; há muito tempo que já vo-lo dei; mas agora quero o vosso; sim, quero vosso Coração divino, ó meu Jesus, ao contrario morro de dor aqui a vossos pés. Dignai-vos cumprir vossas promessas; vós disseste: Minha filha, dá-me teu coração, e eu te darei o meu. Pois bem! Eu cumpri a condição: eu vos dei meu coração; ele é impuro, bem sei, mas vós o purificareis no fogo sagrado de vosso amor. Ó Maria, minha Mãe, dizei a Jesus que me dê seu Coração quanto antes; sim, sim,  quero seu Coração, ele me deve seu Coração, porque eu lhe dei o meu desde a minha mais tenra infância.” Marietta punha todo o cuidado em proceder com a pura intenção de agradar a Jesus Cristo: “Si recebi a existência, dizia ele, devo-a a meu Jesus; por conseguinte,todo o tempo que eu viver, não quero viver senão para meu Jesus. Jesus me resgatou por seu sangue; eu não sou, pois, mais para mim, mas para Jesus; tudo o que eu amar, amarei para Jesus; tudo o que eu fizer, farei para Jesus.” Em meio de suas dores, ela imaginava Jesus na cruz, e Maria com o Coração traspassado por uma espada. Durante a noite, como não podia dormir, Marietta assistia em Espírito às missas que se celebram em todas as igrejas do mundo, e unindo-se então ao divino Cordeiro imolado sobre os altares, oferecia-se como vítima à justiça de Deus, ora para a expiação de nossas faltas, ora para o livramento das almas do purgatório ou para a salvação dos pecadores.

Nas crises terríveis que a torturavam, ela dizia: “Eu não trocaria minha sorte pela da mais feliz princesa.” Já quase a expirar, exclamou,cheia de alegria: “Oh! Quanto é doce morrer!… Eu venho, meu Jesus, eu venho!”

(Mensageiro do Coração de Jesus.)

[1] O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS segundo Santo Affonso de Ligório. Meditações para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa  e a Primeira Sexta-feira do Mês. Collegidas das obras do S Doutor pelo Padre Saint-Omer, Redemptorista. Tradução Portuguesa feita da 83 Edição pelo Exmo. Sr. D. Joaquim Silverio de Souza, Bispo de Diamantina. 3 Edição. Editora Ratisbona, 1908, p 294 a 302