Para inaugurar o Ano Novo no espírito do Coração de Jesus e para sua maior glória – R. P. MATÉO GRAWLEI-BOEVEY

Postado dia 28/12/2017

 

HORA SANTA

 

Esta HORA SANTA[1] pode fazer-se igualmente em certas ocasiões solenes e decisivas da vida: na véspera de casamento, no momento de deixar a família para abraçar a vida religiosa e, sobretudo por ocasião do Retiro espiritual.

O verdadeiro Sol de paz, de esperança e de amor nasce para nós com a aurora do ano novo: é o Coração de Jesus resplandecendo na Hóstia.

Glória, a Ele no Céu, glória a Ele, e a Ele só sobre a terra!… Adveniat, adveniat, adveniat regnum tuum. Que o seu reinado domine na terra como no Céu!… Que o novo ano seja, para o reinado Social do Coração de Jesus, a data dum novo triunfo!… Púnhamo-nos na sua presença com um acto de fé e de profunda adoração… O divino Mestre está ali, e deseja falar.

Escutemos a sua voz bela e profunda como a que enche de ventura e eternidade.

Jesus. – Pax vobis!…A minha paz seja convosco, meus filhos. Trago a minha paz às almas que sofrem que lutam às almas de boa vontade… Pax!… Trago a minha paz aos lares escurecidos pela dor, provado pela desventura, inevitável neste vale de lágrimas… Pax!… Trago a minha paz à sociedade, no meio da qual vós viveis… Ela carece tanto de se cristianizar, de ser mais realmente a minha herança… Eu trago a minha paz à vossa pátria: Pedi-me que ela seja algum dia a minha Jerusalém de Domingo de Ramos… Pax!… Eu trago a minha grande paz vitoriosa para a minha Igreja combatida… Pedi para que Ela encha duma abundante e preciosa colheita os celeiros do Pai celestial…

Não temais como temiam os Apóstolos. Aproximai-vos do Rei, do Irmão, do Amigo… do vosso Jesus… Aproximai-vos… aproximai-vos mais. Quero que toqueis mesmo as chagas das minhas mãos, dos meus pés, singularmente a do meu Lado… introduzi nela a mão: oh! Entrai todos, e ficai dentro, porque é vossa morada no tempo, e, se vós quiserdes, na eternidade…

Crede: eu sou o mesmo Jesus, bom, terno, misericordioso, que nasceu de Maria Virgem!… Sou seu Filho e vós meus irmãos… não tenhais medo de Mim!… E agora, meus filhos, aceitai dóceis e reconhecidos, como presente do meu Amor na aurora deste ano, um pensamento profundo, divino, que eu desejaria fosse a base deste novo período da vossa vida.  Desocupai a vossa alma de tudo; fazei nela absoluto silêncio para recolherdes esta grave lição do meu Evangelho… Almas amadas, meditai esta palavra do vosso Deus: “Um ano mais perto do vosso eterno destino!…” Ah! Pensai almas fiéis, na vaidade e inconstância de tudo quanto não é vosso Deus, e vosso Jesus!…

(LENTO)

Inconstância da flor da juventude que morre;

Inconstância do fumo da ambição, que se desvanece;

Inconstância do relâmpago da alegria que se extingue;

Inconstância da fortuna dourada e vária, que nos escapa;

Inconstância do brilho duma situação, que se apaga;

Inconstância da embriaguês dum prazer, que passa envenenando;

Inconstância da harmonia da beleza terrestre, que morre;

Inconstância do amor humano que muda e esquece;

Inconstância da sabedoria dos homens que engana e ilude.

Vaidade! Tudo vaidade, excetuando-Me a Mim, vosso Jesus…

Meus filhos, escutai a voz dos séculos sepultados com a sua história de glória ou de mentira, e os povos que foram e já não são… eles clamam que tudo é vaidade, menos Eu, o vosso Jesus!…

Muitos milhões de homens, arrastados pelo turbilhão e pelas chamas de guerras fratricidas, clamam na voz silenciosa das suas cinzas: Vaidade! Tudo é vaidade, menos Eu, o vosso Jesus!

E os milhões de outras criaturas ignoradas, feridas no seu coração: mães, esposas, órfãos, desamparados, arruinados… caravana imensa, arrastando a alma dilacerada, todos gritam num clamor pungente! Vaidade!… Tudo é vaidade, menos Eu, o vosso Jesus!…

(BREVE PAUSA)

Mas não vos entristeçais excessivamente; não vos desanimeis, porque, se no mundo só há vaidade, Eu venci o mundo pela realidade do meu Amor!… Tende coragem, erguei os vossos corações, porque Eu sou sempre a eterna, a divina Realidade das almas fiéis!… A única, suprema e imutável, divina Realidade sou Eu… e esta Realidade basta-vos!…

Ó meus amados filhos, dai-Me, que sou vosso Deus, relegado para segundo lugar, – que digo? – para o último lugar, dai-Me o imenso prazer de vos ouvir proclamar aos pés do meu Altar que sou o vosso Amigo.

Pensai sempre na vaidade da juventude que brilha um dia, e morre… Que esperais depois dela?

(Todos repetem em voz alta as palavras em itálico)

A Realidade suprema, que sois Vós, ó Jesus!…

Consoladores do meu Coração, pensai sempre na vaidade da ambição traiçoeira e perigosa, que passa… Em lugar dela que esperais?

A Realidade suprema, que sois Vós, ó Jesus!…

Apóstolos do meu Coração: pensai constantemente na vaidade da alegria mundana, luz que se apaga, orvalho que se evapora. Em lugar dela, que esperais?

A Realidade suprema, que sois Vós, ó Jesus!…

Confidentes do meu Coração: pensai bem na vaidade da fortuna, que corrompe e desaparece. Em lugar dela que esperais?

A Realidade suprema, que sois Vós, ó Jesus!…

Discípulos do meu Coração pensai todos os dias na vaidade do prazer que empeçonha e foge. Em lugar dele que esperais?

A Realidade suprema, que sois Vós, ó Jesus!…

Adoradores do meu Coração: pensai a todo o momento na vaidade da formosura criada, que se murcha e mirra. Em lugar dela que esperais?

A Realidade suprema, que sois Vós, ó Jesus!…

Reparadores do meu Coração: pensei noite e dia na vaidade do amor terreno, que se muda e atraiçoa… Em lugar dele que esperais?

A Realidade suprema, que sois Vós, ó Jesus!…

Filhos do meu Coração: pensai sem cessar na vaidade da ciência humana, que erra e falece. Em lugar dela que esperais?

A Realidade suprema, que sois Vós, ó Jesus!…

Sim! A Vós, Senhor, e só a Vós, que sois a deliciosa e eterna Realidade. Com ela, isto é, convosco, a vida, de si tão vazia de paz e de beleza, ser-nos-há suportável, e doce… apesar das ruínas, dos abrolhos, da morte, semeados ao longo do seu caminho… Contanto que vivamos sempre convosco!…

O ano que principia hoje não nos atemoriza com as suas incertezas, se Vos tivermos sempre ao nosso lado.

O paraíso terrestre não existe. Mas que importa? Temo-lo infinitamente melhor no vosso Coração que ilumina, vivifica e esforça para a eternidade. O nosso Paraíso na terra sois Vós, ó Jesus.

Peçamos, numa oração íntima, a graça de apreciar no seu justo valor a graça do ano novo, e prometamos empregá-lo na glória do Coração de Jesus, e interesses eternos das nossas almas.

(BREVE PAUSA)

As almas. – A HORA SANTA, é a hora das confidências. Jesus, deixai-nos dizer tudo, tudo, absolutamente, porque temos necessidade de desafogar nossos corações aos pés do vosso Tabernáculo… Senhor, sonhem muito embora os mundanos, os sensuais, os frívolos, sobre as ruínas das suas quimeras vãs e insensatas… Nós, prevenidos, com a vossa graça, mais favorecidos, aliás, gratuitamente, do que tantos outros, pela vossa imensa misericórdia, protestamos que vós só nos bastais…

Sustidos pelo vosso Coração adorável, queremos principiar este ano novo, desenganados do século, dos seus falsos bens, dos seus prazeres fementidos…

Desde a aurora deste ano, que é mais um passo para a eternidade que nos há-de lançar definitivamente nos vossos braços, prometemos-Vos não querer doravante outra coisa, senão a Vós, ó Jesus…

(Todos repetem em voz alta as palavras em itálico).

Só a Vós queremos, ó Jesus!…

Desde o raiar deste ano vinde visitar-nos, Senhor; e prometemos-Vos, que na doença e na saúde não queremos outra coisa, senão a Vós, ó Jesus!…

Nada mais queremos, senão a Vós, ó Jesus!…

Desde a aurora deste ano, vinde visitar-nos, Senhor; e prometemos-Vos que na pobreza ou na fortuna Vos bendiremos só a Vós, ó Jesus!…

Bendiremos só a Vós, ó Jesus!…

Desde a aurora deste ano, vinde visitar-nos, Senhor, e prometemos-Vos que na tristeza e na alegria só a Vós procuraremos, ó Jesus!…

Só a Vós procuraremos, ó Jesus!…

Desde a aurora deste ano vinde visitar-nos Senhor; e prometemos-Vos que nas prosperidades e na cruz só a Vós adoraremos, ó Jesus!….

Só a Vós adoraremos, ó Jesus!…

Desde a aurora deste ano vinde visitar-nos, Senhor; e prometemos-Vos que na vida e na morte só a Vós amaremos, ó Jesus!…

Só a Vós amaremos, ó Jesus!….

Só a Vós amaremos, ó Jesus!….

Só a Vós amaremos, ó Jesus!…

(BREVE PAUSA)

O bom Mestre nunca é chamado em vão. Ei-lo a dois passos. Vem derramar a vida do seu Coração dentro do nosso.

Escutemo-lo com santa avidez.

Jesus. – Agradeço-vos, almas fiéis, minhas íntimas, o bálsamo que derramastes sobre as minhas chagas. É o vosso Deus, o vosso Rei, o vosso Pai, o vosso Amigo, sou Eu, o Filho da Imaculada, quem vos fala, e vem ter convosco… É o meu Coração, Sol de Amor, que nasce sobre este altar, trazendo-vos o seu calor e a sua luz para o ano que principia… Venho a vós, cheio de bens, para vos encher deles, para Me empobrecer a Mim, se isso fosse possível, confiando-vos todos os meus tesouros… Venho a vós como nuvem carregada dum dilúvio de graças, que quero derramar sobre vós e vossas famílias, ao nascer deste ano novo, para ele ser ano de graças para vós todos… Mas espero ainda uma palavra da vossa boca… Abri vós mesmos o Tabernáculo do meu Coração. Pedi sem receio. Falai!… Que favor solicitais dos tesouros da minha misericórdia?

(Todos repetem em voz alta as palavras em itálico).

Para nós, o vosso Coração!…

Para Vós toda a glória!…

Assim respondeis agora, ao pé do meu altar. Mas quando estiverdes longe, em plena luta, no meio do mundo, que segredo de força e de vitória reclamareis então?

Para nós, o vosso Coração!…

Para Vós toda a glória!…

E se o mundo se enfurecer, escarnecendo-vos por minha causa… E se ele vos desafiar para escolherdes entre Mim e ele, a quem escolhereis?

Para nós, o vosso Coração!…

Para Vós toda a glória!…

E se a luta embravecer, os sofrimentos e as cruzes se multiplicarem, qual será o grito das vossas almas?

Para nós, o vosso Coração!…

Para Vós toda a glória!…

Como são delicados esses sentimentos. São assim os da vossa família e dos vossos amigos? Que quereis lhe conceda durante este ano?

Para nós, o vosso Coração!…

Para Vós toda a glória!…

Quem sabe? Talvez na vossa casa haja alguém que Me não ama. Infeliz!…

Que pedis em vez dele?

Para nós, o vosso Coração!…

Para Vós toda a glória!…

Sim, salvá-lo-eis pela vossa fé, por esta oração da HORA SANTA… que diadema de glória vos hei-de dar quando soar a hora de eterna justiça?

Para nós, o vosso Coração!…

Para Vós toda a glória!…

(Pode cantar-se aqui um cântico ao Coração de Jesus).

Enquanto os Príncipes do Céu oferecem a Jesus – Rei prendas dignas do Céu. Ele, enamorado da terra, pensando em nós, descendo até nós, sai ao nosso encontro, trazendo-nos prendas do Paraíso: três grandes, inapreciáveis tesouros, tirados do escrínio do seu Coração… Vamos considerar o seu valor imenso em três quadros do Evangelho.

Oremos meditando!…

Meditemos amando!…

[1] HORA SANTA, Doze Exercícios para a vigília da primeira sexta-feira

e mais Sete para diversas circunstâncias pelo R. P. MATÉO GRAWLEI-BOEVEY

dos Sagrados Corações (PICPUS), Primeira Tradução Portuguesa, por

  1. Alexandre dos Santos, O. F. M. Edição do “Boletim Mensal”, Braga – 1928