O CORAÇÃO DE JESUS Segundo a Doutrina de Santa Margarida Maria – por um oblato de Maria Imaculada Capelão de Montmartre

Postado dia 10/11/2017

 

 

Homenagens pedidas pelo Coração de Jesus as famílias ou culto doméstico do Sagrado Coração[1]

 

I — Considerações gerais sobre o culto doméstico do Sagrado Coração.

Quererá o Sagrado Coração ser honrado no seio das famílias? E por quê?

O Coração de Jesus não se satisfaz com o culto individual: querem também o culto doméstico.

O fim que procura é regenerar as famílias, aonde a vida cristã em nossos dias se vai extinguindo, e onde reinam frequentemente dimensões, insubordinação, liberdade de costumes, amor desordenado das riquezas, do luxo e das comodidades. Por isso se propõe como modelo da vida sobrenatural, de humildade, de mansidão, de caridade e misericórdia, de pureza e de desprendimento.

Que devemos entender por família?

Em primeiro lugar devemos entender as famílias propriamente ditas, cujos membros estão unidos pelos laços do sangue; mas famílias são também todas as sociedades ou associações particulares, quer espirituais, quer temporais, cujas homenagens o Sagrado Coração quer receber.

O Sagrado Coração não pede de um modo especial as homenagens das associações religiosas?

Sim, pede. Muitas vezes Santa Margarida Maria  nos mostra o Coração de Jesus mendigando, por assim dizer, as homenagens das pessoas que lhe são consagradas,e queixando-se da indiferença delas:

Não recebo da maior parte dos homens senão ingratidão lhe dizia ele um dia; e o que mais me custa é ver que o meu povo escolhido, que eu tinha destinado para aplacar a minha justiça, me persegue secretamente.

Nosso Senhor não manifestou o desejo particular de receber homenagens das classes elevadas?

Nosso Senhor deseja ardentemente reinar em todas as casas; contudo declarou a Santa Margarida que quer que a devoção ao Sagrado Coração se propague nos palácios dos ricos para aí ser honrado e amado em compensação dos ultrajes que neles recebeu durante a Paixão.

Qual será a razão de tal pedido?

Em primeiro lugar para que o exemplo dos grandes da terra atraia ao seu amor a classe popular, naturalmente inclinada a imitar os que lhe são superiores na escala social. E em segundo lugar, para acabar com a medonha discórdia, que divide a sociedade em dois campos inimigos: o das classes superiores e o das inferiores. A reconciliação do rico com o pobre, do patrão com o operário, do povo com os governos, não se fará senão pelo Sagrado Coração; o seu amor deve ser o laço da paz. No Coração de Jesus está a solução de todas as questões sociais.

Em que consiste o culto doméstico?

O culto doméstico é constituído por duas homenagens principais: a consagração da família e o culto da imagem deste divino Coração. Este culto foi proposto a todos os fiéis, a todas as nações e até a Igreja, mas foi pedido especialmente às famílias.

Em que consiste a Consagração?

A Consagração é a primeira homenagem que as famílias, as comunidades e as associações devem prestar ao Coração de Jesus.

Com este ato reconhece o divino Coração como Rei, que desejam honrar e servir, e como Senhor, a quem desejam obedecer.

A Consagração é uma espécie de contrato entre o Sagrado Coração e uma sociedade; deve, pois fazer-se com certa solenidade em presença da família reunida.

 

II — A imagem do Sagrado Coração.

I — Sua importância, forma simbólica e significação.

 

Que importância tem a imagem do Sagrado Coração?

Segundo as divinas disposições, a imagem do Sagrado Coração deve produzir em nossos dias as maravilhas operadas pela cruz nos primeiros séculos do cristianismo.

Quais são os sinais que nos mostram a importância desta imagem?

Dois sinais há que nos manifestam brilhantemente a excelência da imagem do Sagrado Coração:

1º O cuidado e a solicitude que Nosso Senhor teve em indicar a forma simbólica desta imagem e em mandá-la executar;

2º O ódio encarniçado que o inferno tem a esta imagem. Bem o mostra continuamente nos assaltos terríveis e por vezes sangrentos que move aos que a usam ou propagam; e daí vem o contar ela já um bom número de mártires. Santa Margarida Maria tinha-o previsto: “O demônio, escrevia ela à Madre de Saumaise, teme extraordinariamente que se faça esta imagem, pela glória que deve dar ao Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a salvação de tantas almas.”

Como deseja Nosso Senhor que se represente o seu Sagrado Coração?

Em diversas aparições, Nosso Senhor indicou a Santa Margarida Maria duas maneiras de representar o seu divino Coração: ou simplesmente um coração ou o coração unido à Pessoa.

“Um dia, conta a Santa, (foi a segunda das grandes aparições) Jesus Cristo, meu divino Mestre, apresentou-se me resplandecente de glória, com as cinco chagas brilhantes como o sol; de toda a santa humanidade saíam vivíssimas chamas, mas sobretudo do peito adorável, que semelhava uma fornalha, o qual abrindo-se, me patenteou o seu amante e amabilíssimo Coração, origem dessas mesmas chamas. A chaga adorável que recebeu na cruz via-se claramente; cercava-o uma coroa de espinhos e encimava-o uma cruz”.

Como vemos, o Coração está unido à Pessoa. A mesma visão repetiu-se com freqüência.

Outras vezes, pelo contrário, aparecia só o Coração: basta referir aqui a visão do dia 2 de julho de 1688, na qual diz a Santa: “vi sobre um trono de chamas o Coração de Jesus com a chaga bem evidente.”

Qual foi a decisão da Igreja com relação a estas duas maneiras de representar o Sagrado Coração?

Em ocasiões diversas aprovaram os Sumos Pontífices esta dupla representação iconográfica do Sagrado Coração.

Leão XIII, na admirável Encíclica Annum sacrum, de 25 de maio de 1899, apresenta à Igreja o segundo modo de representar este adorável Coração, como um novo Labarum, destinado a presidir aos grandes combates dos últimos séculos contra o inferno, e a assegurar a vitória ao exército fiel do divino Rei:

En alterum hodie oblatum oculis auspicatissimum divinissimumque signum!

Qual é este novo sinal, sinal divino e de suprema esperança? É o Coração sacratíssimo de Jesus que, encimado pela cruz, resplandece no meio de chamas com o mais vivo fulgor, responde o Vigário de Jesus Cristo; é nele que havemos de colocar todas as esperanças, a ele havemos de pedir, e dele havemos de esperar a salvação dos homens.

Todavia a Igreja ordena que, sobre os altares à veneração dos fiéis, se não exponha simplesmente o Coração, mas a imagem de Nosso Senhor com o coração bem patente no peito. Além disso, segundo uma declaração da Sagrada Congregação das Indulgências, para que uma imagem ou estátua de Nosso Senhor seja a representação do Sagrado Coração, não basta que a chaga do lado esteja bem visível no peito do Salvador, mas é preciso que se veja o Coração.

Em conseqüência disto, a indulgência de sete anos e sete quarentenas, concedia aos fiéis que fizerem qualquer oração diante duma imagem do Sagrado Coração, exposta num oratório público, não se pode lucrar senão diante duma estátua ou imagem em que o Coração esteja bem visível.

Quais são os emblemas que deve ter a imagem do Sagrado Coração de Jesus?

A Santa indica principalmente três emblemas simbólicos, que devem acompanhar o Coração: uma larga ferida, as chamas e diversos instrumentos e a coroa de espinhos.

Qual é a razão destes emblemas?

Nosso Senhor pedindo esta forma simbólica mostra claramente o desejo que tem de ver as diversas devoções em honra da Paixão, especialmente a devoção à Cruz, unidas à devoção do Sagrado Coração nas chamas da divina caridade, para assim formarem uma só devoção. A devoção do amor do Coração de Jesus sofrendo tanto e tão ultrajado.

Qual é a sua significação simbólica?

Responde Santa Margarida Maria:

O meu divino Salvador significou-me que as chamas simbolizam a abundância dos tesouros, cujo manancial se encontra no seu Coração, e que os instrumentos da Paixão, que o circundam, significam que o amor imenso deste divino Coração para com os homens foi a causa de todos os sofrimentos e amarguras que por nós quis sofrer.

[1] O CORAÇÃO DE JESUS, Segundo a Doutrina de Santa Margarida Maria. Por um oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre,Tradução de R. F., Segunda Edição Corrigida, p91/109