Se a Devoção ao Coração de Jesus[1] nos foi dada como remédio aos males dos últimos tempos, se estamos em plena era do Coração de Jesus, grande correspondência há de existir entre esta Devoção e aqueles males.
Na verdade, estudando a índole e caracteres da nova devoção e as necessidades modernas, descobre-se logo entre eles a mesma relação que entre o remédio e a doença, entre o veneno e o antídoto.
Qual é o espírito e o mal dos nossos tempos? Qual é o espírito e o fruto da devoção ao Coração de Jesus?
Vejamo-lo no seguinte esquema de Costa Rosetti.
Índole e crimes característicos do nosso tempo
Espírito e frutos do culto do SS. Coração
Hoje, como no tempo de S. Agostinho, como sempre, o mundo está dividido em duas grandes cidades ou reinos – a cidade de Deus, o reino da luz, e a cidade do erro, o reino das trevas e de Lúcifer.
As grandes lutas e combates no mundo travam-se todos em volta de Jesus.
Os partidos intermédios e as outras lutas são pequena coisa em comparação da eterna luta que divide o mundo naqueles dois grandes reinos.
Não queremos que Jesus reine sobre nós! Nolumus hunc regnare super nos, exclamam hoje com mais furor do que no tempo de Pilatos os blasfemos filhos do erro.
É necessário que Ele reine, e há de reinar sobre todos! Oportet illum regnare, repetem por sua parte com S. Paulo os filhos da verdade.
Reinar ou não reinar Jesus no mundo, eis a eterna luta que divide irreconciliavelmente os homens, eis a vida ou a morte da sociedade.
É o amor em luta aberta com o ódio.
O grande mal dos nossos tempos não é a pobreza – nunca os recursos foram tantos e tão divididos como hoje -; não é a ignorância – a ciência barateou-se e está ao alcance de todos -; o grande mal, que a todos resume, é o ódio, é o egoísmo desta sociedade sem fé.
Quando não há fé nem Deus, o amor é impossível, e sem amor a sociedade é um covil de feras, é o pleno reinado do egoísmo, cada um vive para si.
Então o amor do próximo é uma mentira. O egoísta sem fé nunca chega a ter a noção do amor; quando dá mostras de amar, é a si que ele ama, é o seu interesse que procura sempre. E, se o próximo o contraria, afasta-o, persegue-o, mata-o.
E sai da ordem individual e apodera-se da força e faz as leis e as leis são a divinização da matéria, a glorificação das paixões.
Esta é a grande aspiração do reino das trevas, hoje principalmente concretizado na maçonaria, a igreja internacional do ódio.
E no meio desta sociedade pervertida e desnorteada que se levanta o Coração de Jesus com o seu reino do amor, para fazer recuar o ódio.
O amor é a vida, é o sangue e a seiva da sociedade; é o homem que sai para fora de si mesmo, que esquece os seus interesses, domina os seus instintos maus, vive para os outros, sacrifica-se por eles, dá-lhes o que tem, e até a própria vida.
Esta dedicação e este amor não veio, não podia vir da terra: é a lição que o Coração de Jesus constantemente prega aos homens.
[1] O CORAÇÃO DE JESUS Segundo a Doutrina de Santa Margarida Maria, por um oblato de Maria Imaculada, Capelão de Monmartre, Tradução de R.F., Segunda Edição Corrigida. Porto, Apostolado da Imprensa, Travessa da Carvalhosa, 56 – 1932, p. XL a XLIII.