Novidades que supõe

Postado dia 31/12/2016

 

Se a Devoção ao Coração de Jesus[1] nos foi dada como remédio aos males dos últimos tempos, se estamos em plena era do Coração de Jesus, grande correspondência há de existir entre esta Devoção e aqueles males.

Na verdade, estudando a índole e caracteres da nova devoção e as necessidades modernas, descobre-se logo entre eles a mesma relação que entre o remédio e a doença, entre o veneno e o antídoto.

Qual é o espírito e o mal dos nossos tempos? Qual é o espírito e o fruto da devoção ao Coração de Jesus?

Vejamo-lo no seguinte esquema de Costa Rosetti.

 

 

Índole e crimes característicos do nosso tempo

  1. Apostasia, renegando de Cristo.
  2. Infidelidade total e dia a dia cada vez mais alastrada.
  3. Desesperança e pessimismo: desesperança causada pelas calamidades sociais e pela miséria geral: freqüentes suicídios.
  4. Enregelamento da caridade para com Deus e Cristo: indiferentismo.
  5. Langor da vida católica com manifesto definhamento: a tibieza e oscilante claudicação própria do liberalismo.
  6. Opressão da Igreja, disfarçada ou desfaçada; indiferença ou hostilidade para com o Sumo Pontífice.
  7. Materialismo teórico ou prático.
  8. Voluptuosidade de terrenas deleitações; fastio dos bens celestes.
  9. Sórdida cúbica de grangearias terrenais; descaridoso egoísmo na economia particular e pública, esbulhando os mais opulentos aos menos abastados até a miséria.
  10. Rivalidades sociais e discórdias acerbíssimas: a questão operária, a questão agrária, libertação civil e franquias populares.
  11. O socialismo fremente e o comunismo, cadê vez mais vorazes e insaciáveis.
  12. A relaxação, a lenta decomposição da família e da sociedade, operada pelo liberalismo por meio das escolas emancipadas da religião e dos inumeráveis ardís dos pedreiros livres.

 

 

 

Espírito e frutos do culto do SS. Coração

 

  1. Estreita união com Cristo.
  2. Fé viva, fomentada pela caridade do SS. Coração.
  3. Melhoria da esperança, aumentada pela consideração da clemência e infinita misericórdia do SS. Coração.
  4. Caridade, acesa pelo Coração inflamado de Jesus: afervoramento da vida cristã.
  5. Florescência da vida católica, visivelmente patenteada; freqüência de sacramentos; pujança de associações católicas, opostas ao liberalismo.
  6. Amor ao Vigário de Jesus Cristo; defesa enérgica dos direitos da Santa Igreja, esposa de Cristo.
  7. Anhelo aos bens supra-sensíveis e sobrenaturais, ateado pelas labaredas do amor do SS. Coração.
  8. Saudades e uso freqüente da S. Comunhão.
  9. Abnegação caridosa a bem do próximo, haurida no vulnerado Coração de Deus, circundado de espinhos e coroado pela cruz.
  10. Solução feliz de toda a questão social se vão todas as classes beber no SS. Coração os seus sentimentos de abnegação, de Justiça comutativa e legal, o seu inesgotável amor.
  11. O socialismo e comunismo debelados com reformas sociais, inspiradas pela Justiça e caridade do SS. Coração.
  12. A tutelar conservação católica, consentânea com o verdadeiro progresso, que há de sanar todos os males sociais com a virtude regeneradora do divino Coração.

 

Hoje, como no tempo de S. Agostinho, como sempre, o mundo está dividido em duas grandes cidades ou reinos – a cidade de Deus, o reino da luz, e a cidade do erro, o reino das trevas e de Lúcifer.

As grandes lutas e combates no mundo travam-se todos em volta de Jesus.

Os partidos intermédios e as outras lutas são pequena coisa em comparação da eterna luta que divide o mundo naqueles dois grandes reinos.

Não queremos que Jesus reine sobre nós! Nolumus hunc regnare super nos, exclamam hoje com mais furor do que no tempo de Pilatos os blasfemos filhos do erro.

É necessário que Ele reine, e há de reinar sobre todos! Oportet illum regnare, repetem por sua parte com S. Paulo os filhos da verdade.

Reinar ou não reinar Jesus no mundo, eis a eterna luta que divide irreconciliavelmente os homens, eis a vida ou a morte da sociedade.

É o amor em luta aberta com o ódio.

O grande mal dos nossos tempos não é a pobreza – nunca os recursos foram tantos e tão divididos como hoje -; não é a ignorância – a ciência barateou-se e está ao alcance de todos -; o grande mal, que a todos resume, é o ódio, é o egoísmo desta sociedade sem fé.

Quando não há fé nem Deus, o amor é impossível, e sem amor a sociedade é um covil de feras, é o pleno reinado do egoísmo, cada um vive para si.

Então o amor do próximo é uma mentira. O egoísta sem fé nunca chega a ter a noção do amor; quando dá mostras de amar, é a si que ele ama, é o seu interesse que procura sempre. E, se o próximo o contraria, afasta-o, persegue-o, mata-o.

E sai da ordem individual e apodera-se da força e faz as leis e as leis são a divinização da matéria, a glorificação das paixões.

Esta é a grande aspiração do reino das trevas, hoje principalmente concretizado na maçonaria, a igreja internacional do ódio.

E no meio desta sociedade pervertida e desnorteada que se levanta o Coração de Jesus com o seu reino do amor, para fazer recuar o ódio.

O amor é a vida, é o sangue e a seiva da sociedade; é o homem que sai para fora de si mesmo, que esquece os seus interesses, domina os seus instintos maus, vive para os outros, sacrifica-se por eles, dá-lhes o que tem, e até a própria vida.

Esta dedicação e este amor não veio, não podia vir da terra: é a lição que o Coração de Jesus constantemente prega aos homens.

 

 

 

 

[1] O CORAÇÃO DE JESUS Segundo a Doutrina de Santa Margarida Maria, por um oblato de Maria Imaculada, Capelão de Monmartre, Tradução de R.F., Segunda Edição Corrigida. Porto, Apostolado da Imprensa, Travessa da Carvalhosa, 56 –  1932, p.  XL a XLIII.