Como devemos imitar o Coração de Jesus no mistério da flagelação, pela mortificação voluntária – Pe J.Arnold, S.J

Postado dia 21/02/2018

— Tu, meu filho[1], medita atenta e devotamente os tormentos assombrosos que sofri neste mistério, e aprende quão graves, quão horríveis são os pecados da carne, que exigiram tal satisfação. Não bradam a todos estas chagas, que, ao menos por compaixão, cessem de ir após os apetites carnais, e não queiram juntar novas dores às minhas dores?

Aprende também quanto é grande o amor do meu Coração, pois que, inocente, quis pagar às penas dos culpados. Sim, filho, o amor, o desejo ardente de salvar todos os homens fez que eu com todo o coração entregasse o meu corpo imaculado aos que me feriam, e suportasse de boa vontade os horrendos suplícios da flagelação. Aprende finalmente como deves tratar esse teu corpo, concebido em pecado, crescido entre paixões, sempre inclinado ao mal.

Vê como aprenderam os Santos; reflete como mortificaram os seus membros, como afligiram todos os sentidos.

Quantos dentre eles, que nunca perderam a inocência batismal e, contudo moveram continuamente guerra desapiedada á própria carne, domaram o corpo frágil e com toda a sorte de mortificações o obrigaram a uma completa sujeição!

Eram seus corações semelhantes ao meu e por isso produziam no corpo frutos semelhantes. Nem eles se teriam por inteiramente felizes, se não se conformassem de algum modo comigo também neste ponto.

Portanto, filho, ainda que sejas justo, mortifica a tua carne, para que se não rebele e te leve à perdição; mas, sobretudo para te fazeres semelhante a mim e te santificares.

Há muitos amadores desordenados de si mesmos, homens sensuais, embora não queiram ser tidos por tais, a quem não agrada a mortificação da carne, que sempre tem à mão algum pretexto para se eximir dela.

Insensatos e ilusos! Em verdade, em verdade vos digo que se não fizerdes penitência, todos perecereis igualmente. E se alguém, por mais santo, ou anjo que pareça, disser o contrário, seja anátema!

Lembrai-vos do que diz o Espírito: “Os que são de Cristo, crucificaram a sua carne com todos os vícios e concupiscências”.

A prudência da carne é morte, mas a prudência do espírito é vida, dá paz e alegria.

Portanto Se viverdes segundo a carne morrereis; mas se com o espírito mortificardes as obras da carne, vivereis e gozareis da paz e alegria de coração.

— Filho, anime-te o espírito de amor, com que o meu Coração se sujeito ao acerbo tormento dos açoites e parecer-te-á fácil a mortificação, e verás como são suaves e salutares os seus frutos.

Não há tempo nem lugar, em que não possas mortificar algum sentido.

E não deverias tu, onde quer que esteja, ser mais solícito em mortificar o teu corpo para me imitares e ganhares o Céu, do que o são os pecadores em regalar a própria carne, para renovarem a minha flagelação e merecerem o Inferno?

Mãos à obra, filho, e não temas. A mortificação voluntária é o caminho da vida e da liberdade, da paz, da virtude, e da santidade.

Bem-aventurados os que seguem por este caminho! A sua felicidade só a conhecem os que a experimentaram.

— Quem se não mortifica nas coisas indiferentes e lícitas, dificilmente se mortificará nas necessárias e ilícitas.

Se queres aprender a mortificar-te nas coisas grandes, mortifica-te continuamente nas pequenas.

A curiosidade dos olhos, a ânsia de ouvir novidades, o prurido de gracejar e pairar inutilmente, o prazer de cheirar coisas perfumadas, a inclinação às sensações agradáveis do tato, o apetite de comer ou beber sem necessidade, a vontadinha de beliscar o próximo, estas coisas e outras parecidas podem ser matéria de freqüente e até contínua mortificação.

Estes atos, meu filho, ser-te-ão guarda fiel da inocência e alimento do amor de Deus; conservarão na tua alma o fervor e serão o sacrifício perpétuo oferecido no altar do santuário interior, sacrifício, que unido ao do meu Coração subirá continuamente até o trono do Altíssimo em odor de suavidade.

Estas pequenas mortificações, repetidas frequentemente todos os dias, servem e convêm a todos: jovens e velhos, doentes e sãos, principiantes, proficientes e perfeitos. Ninguém se pode eximir delas sem nota de tibieza.

Nelas não há perigo para a saúde; não é preciso licença para as fazer; são seguras e salutares para todos.

 

[1] ARNOLD S.J., Pe. J.IMITAÇÃO DO SAGRADOCORAÇÃO DE JESUS.Vol. III. Anápolis/2004. P 94/98