Como a Irmã Maria Marta soube corresponder aos desejos de Jesus

Postado dia 29/02/2016

 

Tocada até ao mais profundo do seu ser por estas revelações, a nossa querida Irmã deixava-se impregnar inteiramente por elas. Tinha um tal amor às Chagas adoráveis do Salvador, que lhe parecia «que as ia devorar». O seu mais ardente desejo era suscitar no Universo os sentimentos de amor e de gratidão que elas devem inspirar, estando pronta a dar a vida pela extensão de um culto que ela desejava imenso, apaixonado, sem limites!

Aliás, se o seu ardor diminuía, se as invocações se tornavam menos numerosas nos seus lábios, Jesus não tardava a apresentar-se diante dela no estado lastimoso a que O reduziram as nossas iniqüidades e, mostrando as Suas Chagas, fazia-lhe amorosas censuras: «Elas observam-te sempre, mesmo quando as esqueces, tu que devias estar sempre a olhar para elas… Deves aplicar-te a curar as minhas feridas contemplando as minhas Chagas. Já tas fiz ver tantas vezes que isso dever-te-ia bastar, mas não, tenho sempre que te despertar o fervor.»

Ou ainda: «As invenções dos carrascos para Me fazer sofrer, fui Eu que as quis. Quis, por amor por vós e para satisfazer meu Pai. Tudo se fazia por minha Vontade!… Agora, minha filha, far-te-ei sofrer também, porque assim o quero. Desejo e quero que Me desagraves pelos ultrajes que recebo!… Quero-te vítima de pé… Deveis elevar os vossos corações e lançar-vos nas minhas Chagas.»

Apresentando-se a ela como num quadro: «Deveis copiar-Me», suplicava Ele um dia, com um acento de indizível tristeza e de ardente desejo: «Deveis copiar-Me!… Os pintores fazem retratos mais ou menos conformes ao original, mas aqui sou Eu que sou o pintor e que faço a minha imagem em vós, se olhardes para Mim.»

 Voltando a este mesmo convite, o nosso divino Salvador ensinou-lhe: «Minha filha, quando um pintor quer fazer um quadro, prepara primeiro a tela que receberá o seu pincel».

– «Bom Mestre, eu não sei o que isso quer dizer», disse ela, na sua extrema ignorância. E Jesus teve que explicar que a sua alma era essa tela à espera: «Minha filha, prepara-te para receber todas as pinceladas que eu te quiser dar.»

Algum tempo mais tarde, Ele pertuntou-lhe: «Minha filha, queres ser crucificada comigo ou queres ser glorificada?» – «Ah, meu bom Jesus, prefiro ser crucificada!…» – Mas, a essas palavras, a Irmã Maria Marta foi subitamente invadida por uma grande apreensão e pôs-se a enumerar os seus inúmeros defeitos, que eram um obstáculo às graças de Deus: «Os teus defeitos, replicou o seu doce Mestre, aparecerão todos no dia do Juízo, mas para a tua glória!… Eu recebo todas as tuas ações e os teus sofrimentos pelos pecadores e pelas almas do Purgatório, mas tens que permanecer colada ao meu Coração, às minhas Chagas, fazendo um comigo… Não deves sair do meu Coração, senão não podereis comunicar contigo.»

«Bom Mestre, ensina-me o catecismo», pediu ela uma vez, com a sua candura e ousadia de criança. «Vem para a tua morada, minha esposa, respondeu Jesus mostrando-lhe as Suas Chagas, vem para a tua morada; aqui encontrarás tudo!… Eu serei o teu pregador e ensinar-te-ei a imolar-te por mim e pelo próximo.

O Crucifixo, eis o teu livro!… Toda a verdadeira ciência está no estudo das minhas Chagas. Se todas as minhas criaturas as estudassem, todas encontrariam nelas luzes suficientes, sem terem necessidade de nenhum livro. O livro da minha Paixão é aquele pelo qual todos os meus Santos lêem e lerão eternamente: É o único a que vos deveis afeiçoar.»

«Quando vós vos abasteceis nas minhas Chagas, diz-lhe ainda Nosso Senhor, aliviais o divino Crucificado!». Depois, dirigindo-se a S. Francisco de Sales, mostrando-lhe a Sua pequena privilegiada: «Eis o teu fruto! Uma das tuas filhas que se abastece nas feridas sagradas para dar às almas e apaziguar a minha Justiça».

A nossa Irmã, devorada pelo amor a Deus, aproveitou a ocasião para pedir ao nosso bem-aventurado Pai que lhe obtivesse a graça de ir em breve para a Pátria, gozar do Soberano Bem. Mas ele respondeu às suas súplicas: «minha filha, tens que realizar a tua tarefa!… Ninguém pode entrar no Céu antes de ter cumprido a sua tarefa. Se viesse para aqui, ao ver que a tua tarefa não estava feita, tu própria quererias voltar para a terra para a terminar, considerando a glória que dás ao divino Mestre e como acalmas a Justiça de Deus, tão fortemente irritada…»

Assim, a Irmã Maria Marta era constantemente apoiada, encorajada na «sua tarefa», segundo a expressão que vem incessantemente aos seus lábios. Esta tarefa, como vimos, era, em primeiro lugar, fazer valer continuamente os méritos das Santas Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo pelas necessidades da Igreja militante e da Igreja padecente. Em seguida, trabalhar para renovar, dentro dos limites do possível, esta salutar devoção no mundo inteiro.

A primeira parte dizia-lhe pessoalmente respeito: Nosso Senhor tinha-a comprometido a isso por meio de solenes promessas, antigas já e redigidas pela mão materna:

«Eu, Irmã Maria Marta Chambon, prometo a Nosso Senhor Jesus Cristo oferecer-me todas as manhãs a Deus Pai, em união com as divinas Chagas de Jesus Crucificado, pela salvação do mundo inteiro e pelo bem e perfeição da minha Comunidade. Adorá-l’O-ei em todos os corações que O recebem na Sagrada Eucaristia… Agradecer-Lhe-ei por Ele querer vir a tantos corações que estão tão pouco preparados… Prometo a Nosso Senhor oferecer, de dez em dez minutos, com o auxilio da Sua Graça e em espírito de obediência, as divinas Chagas do Seu Sagrado Corpo ao Pai Eterno…, de unir todas as minhas ações às Suas Santas Chagas, segundo as intenções do Seu adorável Coração, pelo triunfo da Santa Igreja, pelos pecadores e pelas Almas do Purgatório, por todas as necessidades da minha Comunidade, do Noviciado, do Internato, e em expiação de todas as faltas que aí se cometem… Tudo isto, por amor, sem obrigação de pecado.»

A invocação: «Pai Eterno, eu Vos ofereço as Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, para curar as chagas das nossas almas», era a fórmula desta oferta…

A Irmã Maria Marta tinha prometido de dez em dez minutos», mas não se passava nenhum momento do dia em que a sua boca não a renovasse, juntando-lhe a segunda invocação: «Meu Jesus, perdão e misericórdia, pelos méritos das Vossas Santas Chagas.»

A vida da nossa querida Irmã tornou-se, assim, uma oração contínua: A união a Deus, um silencioso recolhimento liam-se na sua fisionomia. Ao vê-la, ficava-se impressionado perante os olhos quase sempre fechados, e os seus lábios murmurando sem cessar uma oração. Sobretudo no Coro, ela perdia-se verdadeiramente n’Aquele que se dignava mostrar-Se aos olhos da sua alma como um Pai e um Amigo.

Quanto à segunda parte da «tarefa», a de despertar nas almas a devoção às Santas Chagas, ela não dependia unicamente da generosidade heróica da Irmã Maria Marta…

Nosso Senhor tinha tido o cuidado de lhe deixar entrever as delongas e as dificuldades: «O teu caminho é o de Me fazer conhecer e amar sobretudo no futuro. Será preciso muito tempo para estabelecer esta devoção.»

O véu do futuro parece ter sido parcialmente levantado diante dos olhos da Irmã Maria Marta, numa espécie de visão de que a Revª Madre Teresa Eugénia lamenta, com visível pena, a obscuridade: «Não pudemos saber mais nem sobre o objetivo desta visão nem sobre o seu significado.»[1].

Sem pretendermos entrar nos pormenores dessa descrição, sem querer dar uma interpretação que não poderia deixar de ser pessoal e, sem dúvida, fantasista, verifiquemos simplesmente os fatos concretos:

A Irmã Maria Marta, com a ajuda das suas Superioras, tinha introduzido a devoção às Santas Chagas na Comunidade: Era o primeiro passo.

Muitos Mosteiros seguiram este exemplo e adotaram a devoção: Foi o segundo passo.

A concessão de 300 dias de indulgência em favor de todas as Casas Visitação do mundo foi um terceiro passo.

O quarto passo data da publicação desta brochura. E ele prossegue magnificamente: A leitura das graças concedidas à nossa Irmã, a benéfica influência das palavras de Jesus a respeito da Sua santa e amorosa Paixão, o zelo das almas religiosas e de tantos corações dedicados, os altos encorajamentos recebidos… provocaram uma renovação do amor para com o divino Crucificado, de tal modo que por todo o mundo se multiplicaram as confiantes invocações às Santas Chagas.

[1]  Era o dia 29 de Agosto de 1868. Nessa época, notemo-lo de passagem, uma Obra, começada em 1843, prosseguia em Lyon. Ela foi elevada à categoria de Arquiconfraria em 1875. É a Arquiconfraria das Cinco Chagas, cuja Sede era na Rue de l’Enfance, 65 – Lyon.