Eleita de Jesus Crucificado

Postado dia 17/02/2016

 

«Uma coisa Me causa desgosto, dizia o doce Salvador à Sua pequena serva, é que haja almas que considerem a devoção às minhas Chagas como uma coisa estranha, desprezível, como uma coisa que não convém… é por isso que ela cai e que a esquecem.

No Céu, tenho Santos que tiveram uma grande devoção às minhas Santas Chagas, mas na terra já não há quase ninguém que Me honre desse modo.»

Esta queixa tem todo o fundamento! Num mundo em que «gozar» parece ser a única preocupação, quantas pessoas, mesmo cristãs, perderam o sentido do sacrifício!… poucas pessoas compreendem a Cruz! Poucas se decidam a meditar a Paixão do Nosso Senhor Jesus Cristo, que S. Francisco de Sales chama, tão justamente, «a verdadeira escola do amor, o mais doce e mais violento motivo de piedade».

Ora, Jesus não quer, de modo algum, que esta mina inextinguível fique por explorar, que permaneçam esquecidos e perdidos os frutos das Suas Santas Chagas. Escolheu para isso – não é esse o Seu costume? – o mais humilde dos instrumentos para levar a cabo a Sua obra de amor.

No dia 2 de Outubro de 1867 a Irmã Maria Marta assistia a uma «tomada de hábito» quando, entreabrindo-se a abóbeda dos céus, viu desenrolar-se lá a mesma cerimônia, com um esplendor muito diferente do da terra. Toda a Visitação do Céu estava presente: As primeiras Madres virando-se para ela, como para lhe dar uma boa notícia, disseram-lhe, felizes:

«O Pai Eterno deu à nossa santa Ordem o Seu Filho, por três maneiras:

1º Jesus Cristo, a Sua Cruz e as Suas Chagas, especialmente a esta Casa.

2º O Seu Sagrado Coração.

3º Jesus-Menino. Deveis ter toda a simplicidade de criança nas vossas relações com Ele.»

Esta tripla dádiva não parece nova. Remontando às origens do Instituto, encontramos, na vida da nossa Madre Ana Margarida Clément, contemporânea de Santa Joana de Chantal, estas três devoções, de que todas as Religiosas formadas por ela levavam o selo.

Talvez – e gostamos de o crer – , tenha sido esta alma, igualmente favorecida, que, de acordo com a nossa Santa Madre e Fundadora, tenha vindo hoje recordá-las à eleita de Deus.

Alguns dias mais tarde, a nossa Revª. Madre Maria Paulina Deglapigny, falecida há dezoito meses, aparece à sua antiga filha e confirma-lhe esta dádiva das Santas Chagas: «A Visitação tinha já uma grande riqueza, mas ela ainda não estava completa. Eis porque feliz é o dia em que deixei a terra porque, desde esse dia, em vez de ter apenas o Sagrado Coração de Nosso Senhor, tereis toda a Santa Humanidade, quer dizer, as Suas Sagradas Chagas. Pedi esta graça para vós.»

O Coração de Jesus? Ah! Quem O possui não possui todo o Jesus? Todo o Amor de Jesus?… Sem dúvida. Mas as Santas Chagas são como que a expressão prolongada – e tão eloqüente! – desse Amor. Por isso, Jesus deseja que O honremos todo inteiro, e que ao adorar o Seu Coração ferido, não nos esqueçamos das Suas outras Chagas, também abertas pelo Amor. E, a propósito, não deixa de ter interesse aproximar a dádiva da Humanidade sofredora de Jesus, feita à nossa Irmã Maria Marta, daquela com que foi gratificada, na mesma época, a nossa Venerável Madre Maria de Sales Chappuis: a dádiva da Santa Humanidade do Salvador.

  1. Francisco de Sales, nosso bem-aventurado Pai, que visitava muitas vezes a sua querida filha para a instruir paternalmente, não deixou de a fortificar na certeza da «eleição divina».

Um dia em que conversavam juntos: «Meu Pai, disse-lhe ela com a sua habitual ingenuidade, sabeis que as minhas Irmãs não têm confiança nenhuma nas minhas afirmações, porque eu sou muito imperfeita.» – «Minha filha, respondeu o Santo, a maneira de Deus ver as coisas não é a da criatura; a criatura julga segundo os critérios humanos. Deus dá as Suas graças a uma miserável que não tem nada, a fim de que todas elas regressem a Ele. Tu deves sentir-te muito contente com as imperfeições que tens, porque elas escondem os dons de Deus. Deus escolheu-te para completar a devoção ao Sagrado Coração: O Coração foi mostrado à minha filha Margarida Maria e as Santas Chagas à minha pequena filha Maria Marta!… É uma necessidade para o meu coração de Pai que esta honra seja prestada por vós a Jesus Crucificado! Isso faz o complemento da Redenção que Jesus tanto desejou!»

A Santíssima Virgem veio também, num dia da Visitação, confirmar a jovem Irmã na sua via. Acompanhadas pelos nossos Santos Fundadores e pela nossa santa Irmã Margarida Maria: «Dou o meu Fruto à Visitação, como O levei à minha prima Isabel, disse-lhe Ela com bondade. O teu Santo Fundador reproduziu os trabalhos, a doçura e a humildade do meu Filho; a tua Santa Madre de Chantal, a minha generosidade, passando por cima de todos os obstáculos para se unir a Jesus e fazer a Sua Santa Vontade; a bem-aventurada Irmã Margarida Maria reproduziu o Sagrado Coração de meu Filho para o dar ao mundo… E tu, minha filha, tu foste escolhida para travar a Justiça de Deus, fazendo valer os méritos da Paixão e das Santas Chagas do meu único e bem-amado Filho, Jesus!…»

E como a Irmã Maria Marta opunha algumas objeções: «Minha filha, retorquiu a Imaculada Virgem Maria, não tendes que vos inquietar, a tua Madre e tu, o meu Filho sabe bem o que deve fazer… Vós, fazei apenas, dia após dia, o que Jesus quer.»

Os convites e os encorajamentos da Santíssima Virgem irão, aliás, multiplicar-se e tomar todas as formas: «Se desejais riquezas, tendes que as ir buscar às Santas Chagas do meu Filho… Todas as luzes do Espírito Santo saem das Chagas de Jesus, mas recebereis esses dons consoantes a vossa humildade… Sou a vossa Mãe e digo-vos: Ide beber às Chagas do meu Filho!… Sugai o Sangue até O esgotar, o que, contudo, nunca sucederá. É preciso que tu, minha filha, apliques as Chagas do meu Filho aos maus, para os converter.»

Depois das intervenções das primeiras Madres, do nosso Santo Fundador e da Santíssima Virgem, não poderíamos esquecer, neste quadro, as de Deus Pai, por Quem a nossa querida Irmã sempre sentiu uma ternura, uma confiança de criança e por Quem foi verdadeiramente, divinamente mimada. Sabe-se como Ele a instruiu acerca da sua missão futura. De vez em quando, recorda-lho: «Minha filha, dou-te o meu Filho para te ajudar durante todo o dia, para que possas pagar tudo o que deves à minha Justiça em proveito de todos. Irás buscar constantemente às Chagas de Jesus o que é preciso para pagar as dívidas dos pecadores.».

A Comunidade fazia procissões e orações por diversas necessidades: «Tudo o que Me dais não é nada, declarou Deus Pai». – «Se não é nada, retorquiu a audaciosa jovem, ofereço-Vos então tudo o que o Vosso Filho fez e sofreu por nós.» «- Ah! – volta o Pai Eterno, isso é grande!…»

Por Seu lado, Nosso Senhor, para fortalecer a Sua serva, renova-lhe, várias vezes, a segurança de que ela é realmente chamada a reavivar a devoção às Chagas redentoras: «Escolhi-te para reanimar a devoção à minha Santa Paixão nos tempos infelizes em que viveis.» Depois, mostrando-lhe as Suas Santas Chagas como um livro por onde lhe quer ensinar a ler, o bom Mestre acrescenta: «Não retires os olhos deste livro e aprenderás mais nele que os maiores sábios. A oração às Santas Chagas inclui tudo»

Uma outra vez, no mês de Junho, quando ela se encontrava prostrada aos pés do Santíssimo Sacramento, Nosso Senhor, abrindo o Seu Sagrado Coração como a Fonte de todas as outras Chagas, volta a insistir: «Escolhi a minha fiel serva Margarida Maria para dar a conhecer o meu divino Coração, e a minha pequena Maria Marta para introduzir a devoção as minhas outras Chagas!… As minhas Chagas salvar-vos-ão infalivelmente; elas salvarão o mundo.»

Noutra altura: «O teu caminho, disse-lhe ele, é o de Me fazer conhecer e amar, sobretudo no futuro.» pede-lhe que ofereça incessantemente as Suas divinas Chagas para a salvação do mundo: «Minha filha, o mundo terá maiores ou menores perturbações consoante o modo como tu tiveres desempenhado a tua missão… Foste escolhida para satisfazer a minha Justiça. Encerrada na tua clausura, deves viver como se vive no Céu, amar-Me, implorar-Me sem cessar, pelas minhas Chagas, para acalmar a minha vingança.

Por esta devoção, quero que não só as almas com quem vives se tornem santas, mas também muitas outras! Um dia pedir-te-ei contas do modo como foste buscar, a este tesouro, tudo para todas as minhas criaturas.

Verdadeiramente, dir-lhe-á ainda mais tarde, verdadeiramente, minha esposa, Eu habito neste lugar e em todos os corações!… Estabelecerei neles o meu Reino e a minha Paz, destruirei, pelo meu poder, todos os obstáculos, porque Eu sou o Senhor dos corações e conheço todas as suas misérias… Tu, minha filha, tu és o canal das minhas graças. Aprende que o canal não tem nada de seu, tem apenas o que lhe fazer passar por dentro. Como canal, não deves guardar nada e deves dizer tudo o que Eu te comunico. Escolhi-te para fazer valer os méritos da minha Santa Paixão para todos; mas quero que fiques sempre escondida. A Mim pertence dar a conhecer, mais tarde, que é por este meio que o mundo será salvo, e também pelas mãos da minha Mãe Imaculada!…»